Com a saída de Cuba do Programa Mais Médicos, depois que o presidente Jair Bolsonaro anunciou, antes mesmo da posse, que iria exigir o revalida dos seus diplomas para testar conhecimento dos profissionais de Medicina cubanos surgiu uma grande polêmica sobre a necessidade desse teste, o que é comum para todos que se graduam fora do Brasil, mas o debate ideológico levou a discussão para o campo da política.
Formado em Cuba, o médico Igor Lago, numa entrevista à revista MARANHÃO HOJE, diz como foi o processo para que seu diploma fosse aceito no Brasil:
- Você que é graduado em Cuba enfrentou dificuldades para ter seu diploma validado no Brasil?
- Estudei em Cuba entre 1986 e 1992. Quando voltei a revalidação era dada comparando as matérias e as cargas horárias em diferentes faculdades brasileiras. Não havia um exame. Fiz o processo pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o que foi bem demorado na época porque nunca havia sido feito até então. Depois fui descobrir que a Universidade de Campinas (UNICAMP) fazia o processo entre quatro e ses meses. A UFMA revalidou o meu diploma após um ano e sete meses!
- O que diferencia a formação de Medicina em Cuba para a do Brasil?
- Com relação ao curso não vejo grandes diferenças. A duração é de seis anos e, talvez, a única diferença seja a existência de matérias de cunho social e/ou político. Por exemplo, no primeiro ano estudei uma cadeira chamada Sociedade e Medicina, que era uma introdução ao programa Médico da Família, o qual seria abordado durante os últimos dois anos do curso. Nessa disciplina o médico é treinado para ter uma formação básica e geral nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria e Ortopedia. Contudo, a formação não é diferente da nossa. Os livros de cabeceira eram norte-americanos em sua grande maioria. De origem russa apenas o de Anatomia.
- Como se dá o trabalho do médico cubano após conclusão do curso?
- O médico cubano se gradua e fica 2-3 anos prestando serviços como médico da família. Depois, pode solicitar a possibilidade de fazer uma especialização.
- É possível que tenham sido enviados não médicos para trabalhar no Brasil?
- Não tenho conhecimento de envio de profissionais não médicos para exercer a função. Acho que se trata de mentira, nada mais. Cuba faz dessa prestação de serviços um meio de obter moeda forte, dólar. Não correria o risco de enviar falsos profissionais porque jogaria a perder a credibilidade de seu negócio.
- Você é a favor da aplicação do Revalida para quem veio do exterior trabalhar no Mais Médicos?
- Sou a favor do exame Revalida para todos os médicos, tanto os formados no exterior como os que são formados aqui. O CREMESP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) tenta há alguns anos implementar um exame desse tipo aqui em São Paulo, mas não é obrigatório. Acho que é uma garantia para a sociedade de ter médicos formados com um exame que avalie esta formação. Vejo que o nível de aprovação no Revalida é muito baixo. Tenho curiosidade se os estudantes formados aqui se sairiam melhor…