Marqueteiro digital diz que fez disparos em massa para políticos do PT

Hans River (à direita) afirmou que a Yacows orientou seus funcionários a fazerem envio de material político pelo WhatsApp no pleito de 2018 (Jane de Araújo/Agência Sendo)

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Ex-funcionário da Tacões, empresa de marketing digital, Hans River do Nascimento afirmou, nesta terça-feira (11) em depoimento à CPMI das Fake Ness, que as ações desse tipo de estratégia de comunicação utilizadas nas eleições de 2018 incluíam o uso não autorizado de dados pessoais.

A Yacows é uma das empresas acusadas de operar disparos em massa em favor de campanhas políticas durante as eleições de 2018.  Segundo explicou a parlamentares, ele foi contratado para fazer marketing comercial por meio do WhatsApp, mas logo de início os representantes da empresa orientavam os funcionários a trabalharem, também, com material político. Vários candidatos e partidos, disse ele, usavam os serviços, inclusive fora do período eleitoral.

De acordo com Hans River, para enviar as mensagens em massa, a empresa mantinha um cadastro de nomes e CPFs, lista que era usada para registrar chips de celular. Ele afirmou não saber como esses dados eram obtidos, mas disse acreditar que os indivíduos listados não haviam concedido autorização para esse uso.

Conflitos – Em um trecho de seu depoimento, Hans River afirmou que a Yacows possuía uma “forte ligação” com o PT, e que a empresa teria recebido uma soma de dinheiro logo após a prisão do ex-presidente Lula, em abril de 2018, para intensificar o envio de mensagens em favor do partido.

O deputado Rui Falcão (PT-SP), autor do requerimento de convocação de River, classificou a declaração como inverídica e disse que o partido não tinha contrato com a empresa. Ele também acusou River de “tergiversar” e de agir para “acobertar” as práticas criminosas da Yacows que ele inicialmente denunciou.

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou enxergar uma contradição no depoimento de River: no seu processo trabalhista, a data de admissão na Yacows é no mês de agosto, o que significa que o operador de mensagens não estaria trabalhando na empresa na época da prisão de Lula. River respondeu que a empresa não agia corretamente no registro dos seus funcionários.

Os deputados Túlio Gadêlha (PDT-PE) e Natália Bonavides (PT-RN) também destacaram inconsistências no depoimento. Eles cogitaram que River poderia estar sendo ameaçado ou coagido a mentir para a CPMI.

Gadêlha quis saber quem seria responsável pelo pagamento do advogado que acompanhou River na audiência. O depoente afirmou que estava custeando os serviços do próprio bolso, mesmo enfrentando dificuldades financeiras por fazê-lo.

Requerimento aprovado – A CPI Mista das Fake News vai receber o congressista britânico Damian Collins para falar sobre investigação parlamentar que ele conduziu no Reino Unido. A data ainda será confirmada.

A relatora, Lídice da Mata (PSB-BA), fez o anúncio hoje. O convite havia sido feito em requerimento aprovado pela comissão em setembro.

Collins é membro da House of Commons (o equivalente à Câmara dos Deputados) desde 2010. Entre 2017 e 2019, ele comandou uma investigação parlamentar sobre o uso de campanhas virtuais no processo do referendo do Brexit, por meio do qual o Reino Unido iniciou o seu desligamento da União Europeia. O relatório final das atividades acusou grandes empresas de mídia, como o Facebook, de contribuir para a violação de dados pessoais de seus usuários.
“Vai ser muito importante para a nossa CPMI conhecer com mais detalhes a primeira experiência internacional de investigação a respeito do fenômeno das fake news”, frisou Lídice.

(Da Agência Câmara)

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