AQUILES EMIR
Um trecho das conversas entre o então juiz federal e o procurador Deltan Dallagnol, da Força Tarefa da Lava Jato, em março de 2017, revelado nesta quinta-feira (20) pelo jornalista Reinaldo Azevedo, da Band News FM, reforça a tese de que o magistrado orientava o Ministério Público nas acusações contra Luis Inácio Lula da Silva. Lula foi condenado por Moro pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Moro teria reclamado do desempenho de uma procuradora e fora atendido na sua substituição para as audiências seguintes sobre o triplex do Guarujá, no litoral paulista, que teria sido dado pela construtora OAS ao ex-presidente.
O assunto havia sido tratado por um senador na audiência desta quarta-feira com o ministro da Justiça e Segurança Pública, mas este, além de não reconhecer a autenticidade do diálogo, não vê ilicitude se a conversa realmente se deu nestes termos.
No diálogo com Dellagnol, Moro reclama da procuradora Laura Tessler porque ela “não vai muito bem em inquirição em audiência”. O então juiz chega a comentar: “Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem”.
Horas depois, Dallagnol enviou a mensagem para o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, outro integrante da Força Tarefa da Lava Jato.
“Recebeu a mensagem de Moro sobre a audiência [de Lula]?”, teria questionado, mas Carlos Santos Lima que não havia. Antes de enviar a mensagem, Dallagnol pede para Santos não comentar com ninguém seu conteúdo. “Não comenta com ninguém e me assegura que o seu Telegram não está aberto no computador e outras pessoas não estão vendo o que eu falo.”
Procurado, o Ministério da Justiça alega que não reconhece a autenticidade da mensagem atribuída a Sergio Moro, “pois pode ter sido editada ou adulterada pelo grupo criminoso”. A nota diz ainda: “mesmo se autêntica, nada tem de ilícita ou antiética. A suposta mensagem já havia sido divulgada semana passada, nada havendo de novo”.
O ex-procurador Carlos Fernando também foi procurado e preferiu não se manifestar. Já a força-tarefa da Lava Jato disse que não vai comentar.