Mais de 1 bilhão de pessoas em situação de fragilidade
O secretário-geral das Nações Unidas chamou a atenção do Conselho de Segurança para os “graves danos” do conflito na Ucrânia à economia global. Na sessão realizada nesta terça-feira (05), António Guterres enfatizou, em particular, a situação das pessoas vulneráveis e dos países em desenvolvimento.
No evento, realizado 41 dias após o início da ofensiva militar russa, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um discurso por videoconferência sobre a situação.
Uma análise da organização revela que 74 países em desenvolvimento, com uma população de 1,2 bilhão de pessoas, são particularmente vulneráveis ao aumento dos custos de alimentos, energia e fertilizantes.
Sobre o impacto econômico, ele destacou que os títulos de dívida do grupo representam 16% das receitas de exportação. Em pequenos Estados insulares em desenvolvimento, essa proporção chega a 34% e sobe com o aumento das taxas de juros e à necessidade de pagar por importações caras.
Em março, os preços do trigo aumentaram 22%, do milho 21% e da cevada 31%. Já o petróleo bruto ficou 60% mais caro do que no mesmo período do ano passado. Enquanto os valores do gás natural e dos fertilizantes mais do que duplicaram no mesmo período.
Guterres destacou que alguns países passaram da situação de vulnerabilidade para crise, havendo “sinais de grave agitação social”. Ele alertou que “as chamas do conflito são alimentadas pela desigualdade, pela privação e pelo subfinanciamento”.
Fronteiras – Para Guterres, o mundo está lidando com a plena invasão da Ucrânia, um Estado-membro da ONU, pela Rússia, que é integrante permanente do Conselho de Segurança, violando a Carta das Nações Unidas e com objetivos que incluem redesenhar as fronteiras internacionalmente reconhecidas entre os dois países.
A ONU estima que o conflito já tenha provocado 1.480 mortes e deixado 2,195 feridos. O número pode ser consideravelmente maior. Mais de 11,3 milhões de pessoas abandonaram seus lares e vivem dentro e fora do país.
Guterres destacou os efeitos desde a perda de vidas sem sentido, à devastação maciça nos centros urbanos e destruição da infraestrutura civil. Ele mencionou os recentes “crimes em Bucha”, onde pediu uma investigação independente imediata para garantir a responsabilização efetiva após “choque com imagens de estupros e violência sexual”.
Leis internacionais – Sobre os incidentes, o chefe da ONU ressaltou que a alta comissária para os Direitos Humanos falou de possíveis crimes de guerra, graves violações de leis internacionais humanitárias e de direitos humanos.
Guterres disse que a guerra na Ucrânia deve parar agora, dando espaço para negociações sérias para a paz, baseadas nos princípios da Carta das Nações Unidas. Ele disse que o Conselho é encarregado de manter a paz e deve fazê-lo em solidariedade.
O secretário-geral lamentou profundamente as divisões que impediram de agir na Ucrânia, mas em outras ameaças à paz e à segurança em todo o mundo.
Já a subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, destacou haver alegações críveis de que as forças russas teriam usado “munições de fragmentação em áreas povoadas pelo menos 24 vezes”. Também é apurado o uso do tipo de armamento pelas forças ucranianas.
Subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, destacou haver alegações críveis de que as forças russas teriam usado munições de fragmentação em áreas povoadas pelo menos 24 vezes
Violência – DiCarlo destacou ainda as denúncias de violência sexual por parte das forças ucranianas e de milícias de defesa civil, que vêm sendo apuradas pela Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia.
Outras razões de preocupação incluem vídeos retratando o uso de prisioneiros de guerra em ambos os lados do conflito. A chefe dos Assuntos Políticos alertou que estes “devem ser tratados com dignidade e pleno respeito pelos seus direitos, de acordo com leis internacionais”.
Altos funcionários das Nações Unidas disseram estar seriamente preocupados com o aumento do risco de tráfico humano.
Falando de Genebra, o subsecretário-geral da Assistência Humanitária, Martin Griffiths, disse que prossegue contatos com as partes para abordar a situação em busca de um cessar-fogo humanitário urgente.
Ajuda – Nesta segunda-feira, o chefe humanitário disse que manteve encontros na Rússia, incluindo com o chefe da diplomacia, Sergei Lavrov, com quem abordou a questão de comboios humanitários, incluindo os quatro que já foram despachados.
Ele disse que aborda ainda as possibilidades de reforço de cooperação, compartilhando sugestões para pausas militares mutuamente acordadas para permitir a evacuação de civis e a passagem segura de ajuda essencial e garantiram-me sua intenção de estudar cuidadosamente essas ideias.
Na quarta-feira, Griffits estará na Ucrânia para participar em discussões com autoridades locais sobre essas questões e abordar em primeira mão a resposta humanitária.
Busca de paz – Griffits destacou que o mundo não pode permitir a guerra e pediu aos 15 Estados-membros do Conselho que usem sua influência em favor dos esforços da busca da paz e alívio do sofrimento. Pelo menos 1,5 milhão de pessoas na Ucrânia já receberam auxílio.
Pelo mundo, cerca de 47 milhões de habitantes podem enfrentar grave insegurança alimentar devido ao conflito.
A situação pode elevar para 325 milhões o total de pessoas sem saber de onde tirar a próxima refeição, número considerado o maior da história recente e acima do dobro em relação aos últimos três anos.
(ONU News)