Brasil perde milionários em ritmo recorde e vê riscos para o futuro econômico

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Perda de capital humano e de credibilidade

O Brasil vive um êxodo de milionários que já é descrito por especialistas como um sinal de alerta para a economia nacional. Dados da consultoria Henley & Partners indicam que, em 2025, cerca de 1.200 milionários devem deixar o país, um aumento de 50% em relação ao ano anterior. O movimento representará a saída de aproximadamente R$ 46 bilhões em patrimônio, consolidando o Brasil como o 6º país do mundo que mais perde pessoas de alta renda.

Nos últimos dez anos, o quadro já se desenhava. Segundo o Instituto Millenium, o Brasil perdeu 18% dos seus milionários entre 2014 e 2024. Agora, a aceleração reforça um questionamento: o que explica a falta de atratividade do país para quem mais poderia investir nele?

Para o contador tributarista e professor universitário André Charone, mestre em negócios internacionais, o fenômeno não deve ser visto apenas como uma estatística.

“Quando olhamos para a saída de milionários, não estamos falando só de fortunas que migram. Estamos falando da perda de capacidade empreendedora, de geração de empregos e de inovação. É um retrato de um país que se tornou hostil para quem tem capital e disposição para investir”, afirma André.

Insegurança, impostos e instabilidade – Entre os fatores que explicam a evasão, estão a violência urbana, a alta carga tributária, a instabilidade política e a insegurança jurídica.

Charone ressalta que a violência costuma ser o primeiro gatilho, mas não o único.

*Contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).

“A violência assusta, mas o que sela a decisão de sair é a instabilidade política e a falta de previsibilidade no ambiente regulatório. O empresário não sabe como será tributado amanhã, se uma reforma vai alterar regras de forma abrupta ou se novas burocracias vão encarecer ainda mais o negócio”, observa.

Para ele, a percepção de que o Brasil cobra muito e entrega pouco é cada vez mais clara:

“Vivemos em um modelo de alto custo e baixo retorno. Os impostos são altíssimos, mas saúde, educação e segurança pública não acompanham. Quem pode, busca alternativas fora do país”, complementa.

Para onde estão indo – Os destinos mais procurados são Estados Unidos (especialmente a Flórida), Portugal, Uruguai, Panamá e Emirados Árabes Unidos.

Segundo Charone, não é apenas o fator tributário que atrai.

“Esses países oferecem estabilidade, segurança e planejamento de longo prazo. É disso que o investidor precisa: saber que seu patrimônio está protegido e que o futuro não será redesenhado a cada troca de governo”, analisa.

Impactos além da fuga de capitais – A saída dos milionários traz efeitos mais profundos que a simples transferência de recursos. Para Charone, o que está em jogo é a perda de capital humano e de credibilidade internacional.

“Quando empresários e executivos decidem ir embora, não levam só dinheiro. Levam também sua experiência, sua rede de contatos e sua capacidade de gerar negócios. É um esvaziamento que atinge diretamente o potencial produtivo do país”, alerta.

O especialista aponta ainda para a imagem que o Brasil projeta ao mundo:

“Se os próprios brasileiros de alta renda não confiam no país, como esperar que o investidor estrangeiro confie? A evasão funciona como um termômetro que afeta até a percepção internacional de risco”, avalia.

Um sintoma mais amplo – Para Charone, o êxodo de milionários deve ser interpretado como um sintoma de um problema estrutural.

“Não é uma questão restrita à elite. Se quem mais poderia contribuir com investimentos e inovação está saindo, isso mostra que o ambiente de negócios afeta a todos — do grande empresário ao pequeno empreendedor que luta para sobreviver à burocracia e à tributação excessiva”, afirma.

Ele reforça que a solução passa por mudanças profundas.

“Não adianta pensar em mecanismos de retenção artificial. É preciso reformar o sistema tributário, reduzir a burocracia, garantir segurança jurídica e investir em serviços públicos. Só assim vamos transformar o Brasil em um país no qual o capital quer permanecer e crescer”, conclui.

A evasão de milionários não é apenas um dado de mercado, mas um retrato de um Brasil que expulsa quem poderia ajudar a transformá-lo. O fenômeno escancara um dilema: como reter talentos e recursos em um país que, historicamente, cobra muito e oferece pouco em troca?

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