
Tecnologia é modelo para produção sustentável
O Sistema Integrado de Produção de Alimentos, conhecido por Sisteminha, é uma tecnologia social voltada para a agricultura familiar e para a produção de alimentos – piscicultura, agricultura e criação de pequenos animais – em pequenos espaços, como quintais rurais, periurbanos e urbanos, garantindo a segurança e a soberania alimentar e nutricional de famílias e/ou comunidades de baixa renda de forma sustentável, versátil e com baixo custo, e o desenvolvimento rural sustentável.
A tecnologia foi aprimorada para incluir uma abordagem de produção com foco comunitário e escalabilidade: o Sisteminha Comunidades, versão em que a produção é incrementada para atender ao mercado local, podendo se tornar modelo de empreendedorismo e desenvolvimento comunitário. Essa evolução contribui para o escalonamento da redução da pobreza e da fome, impactando ainda mais positivamente o desenvolvimento social de milhares de famílias.
Desenvolvida pelo pesquisador da Embrapa Maranhão Luiz Carlos Guilherme durante seu doutorado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) com recursos da Fundação Amparo de Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a tecnologia nasceu a partir do biofiltro que é o “motor” do tanque de peixes – o coração do Sisteminha – construído por meio de estruturas simples montadas com recursos disponíveis localmente.
Na Embrapa, a tecnologia foi estruturada na forma que se conhece pelo nome de Sisteminha, cuja lógica é promover a ciclagem de nutrientes, o uso eficiente da água do tanque para irrigação e do solo e técnicas como compostagem e vermicompostagem para transformar resíduos em adubo, reduzindo a necessidade de insumos externos e os impactos ambientais, criando um ciclo sustentável.
“A partir dos resíduos gerados nesses módulos é possível produzir o composto orgânico que serve como adubo do módulo vegetal, que pode envolver o cultivo de frutas, verduras e hortaliças ou outros produtos de acordo com o interesse da família e a vocação da região, explica o pesquisador. O Sisteminha se mostra viável justamente porque é modular, adaptável – sendo possível adicionar ou retirar elementos do modelo original para adaptar às diferentes realidades – e centrado no aproveitamento de recursos disponíveis”, completa o pesquisador Luiz Carlos Guiherme”.
O resultado é menos fome e êxodo rural, mais segurança alimentar, geração de renda e autonomia, especialmente em áreas urbanas, periurbanas e rurais do Nordeste do Brasil e mais preservação de culturas quilombolas, indígenas, ribeirinhas e extrativistas e do meio ambiente circundante.
O Sisteminha estará na COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que ocorrerá em Belém, no Pará. Um Sisteminha completo foi instalado na sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, na AgriZone (espaço da Embrapa e parceiros que reúne tecnologias de baixo carbono com foco em adaptação, resiliência climática e segurança alimentar), como vitrine tecnológica para os participantes do evento. Outra unidade do Sisteminha foi instalada no município de Ananindeua, na Cozinha Comunitária de Curuçambá.
A tecnologia foi ainda destaque na COP29. As Unidades de Referência Tecnológica recém-instaladas também serão polo irradiador da tecnologia social na região Norte, ferramenta para a capacitação de mais produtores rurais, comunidades, multiplicadores e outros segmentos.
A COP30 terá foco em temas como justiça climática, transição energética justa para a Amazônia e financiamento climático. O debate sobre sistemas alimentares e agricultura familiar sustentável está previsto na agenda. O Sisteminha se encaixa nesse debate como uma solução viável economicamente alinhada com práticas de sustentabilidade no campo para o combate à fome e o fortalecimento da autonomia das comunidades.
A importância do Sisteminha no contexto da COP30 ocorre por ele ser apresentado como uma tecnologia social que contribui para:
Sisteminha e mudanças climáticas – O Sisteminha é considerado uma tecnologia de defesa e fortalecimento de territórios, especialmente aqueles mais impactados por emergências climáticas. Ele promove a autossuficiência alimentar e a produção diversificada em pequenas áreas, tornando as famílias menos vulneráveis à quebra de safras ou à escassez causada por eventos climáticos extremos (como secas intensas ou inundações).
Sustentabilidade e Uso Eficiente de Recursos: O sistema é baseado na ciclagem de nutrientes e no uso eficiente da água e de outros recursos. Geralmente inclui módulos como tanque de piscicultura (com recirculação de água), horta fertirrigada com a água do tanque, galinheiro, compostagem e minhocário. Essa integração e o aproveitamento de resíduos reduzem a necessidade de insumos externos (como fertilizantes industriais), que muitas vezes estão ligados a emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) ou que podem ter a produção ou distribuição afetada por crises climáticas.
Adaptação: Ao permitir a produção de diversos alimentos (peixes, ovos, carne, hortaliças) em um sistema integrado e modular, o Sisteminha facilita a adaptação a diferentes realidades e condições ambientais, contribuindo para que os agricultores familiares e comunidades tradicionais possam lidar melhor com as alterações no clima.
Contribuição para a Mitigação: Por adotar práticas de agricultura sustentável, reduzir o uso de insumos químicos e favorecer a produção local, ele se alinha a modelos que buscam diminuir a contribuição da agricultura para as emissões de GEE (como as provenientes de desmatamento, fertilizantes nitrogenados e transporte de alimentos).







