A política estudantil

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O Brasil nos anos sessenta era uma terra em transe como nomeou Glauber Rocha. A questão das reformas, o confronto entre populismo e autoritarismo, os movimentos estudantis e sua pauta por mais escolas e vagas universitárias. O embate entre os blocos capitalista e socialista, as ameaças de guerra nuclear global.

As entidades estudantis exerciam papel preponderante no processo político, no plano nacional a União Nacional dos Estudantes- UNE com o Centro Popular, onde se destacavam Ferreira Gullar, Cacá Diegues, Oduvaldo Viana Filho, e vários autores e atores conhecidos nacionalmente por integrarem o elenco da Rede Globo de Televisão. Todos rotulados como esquerdistas. Existiam também organizações agrupando os direitistas. A radicalização de posições dominava, os dois lados anunciavam: o golpe estava em curso. Finalmente chegou em 31 de março de 1964.

Desde o século 19 a juventude brasileira participou da política de forma ativa e avançada, foi assim na campanha pela abolição da escravatura e pela República. A tradição prosseguiu na Mobilização pelas Diretas e impedimento do Presidente da República. Ultimamente, aparentemente silenciou. Sociólogos da envergadura de Octávio Iannni, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso, dentre outros, produziram trabalhos acadêmicos sobre o protagonismo dos movimentos estudantis, a Une nacional, e as uniões estaduais.

Aqui, no Maranhão, era a UMES. Elas se constituíam em forja de lideranças. O ex-governador de São Paulo e senador José Serra, presidia a UNE quando do golpe de 31 de março de março de 64, participou do Comício da Central do Brasil, do dia 13 do mesmo mês. Segundo abalizados analistas, a participação de Jango nessa concentração foi determinante para convencer setores militares da quebra de hierarquia, justificando a sua derrubada.

No Maranhão, a UMES revelou políticos de destaque, a exemplo do exgovernador Luiz Rocha. Procedente de Balsas, de origem humilde, inteligente, fluente, de palavra fácil, elegeu-se presidente da entidade, iniciando depois carreira na atividade partidária. Integrou-se ao grupo liderado pelo então deputado José Sarney, com sucessivos mandatos eletivos: vereador, deputado estadual e federal, e por fim, governador do Estado.

No mesmo contexto, Edson Vidigal, vindo de Caxias, começou sendo jornalista e jornaleiro de forma alternativa. Inteligente, também de verbo fácil, elegeu-se vereador à Câmara Municipal de sua cidade. Palmilhou caminho árduo, enfrentado Artigos Publicados em “O Imparcial” obstáculos superados pelo denodo e resistência por mim testemunhados em longa convivência.

Recém-chegado fizemos amizade, e nos encontrávamos nas conversas do Largo do Carmo de quem era igualmente frequentador. Matriculou-se no mesmo colégio onde cursava o ginasial, o Atheneu Teixeira Mendes. Me propôs que disputássemos a direção do grêmio em uma chapa. Ganhamos as eleições. Mas não era só. Os grêmios votavam para a Diretoria da UMES, o objetivo final.

Tudo parecia ir bem em nossos projetos até que o professor Solano Rodrigues, diretor do Atheneu entendeu que tínhamos ido além, baixou ato suspendendo o Grêmio. Mesmo assim prosseguíamos em campanha para a UMES, visitado outros colégios e suas associações estudantis, ao tempo em que assinávamos a coluna Plantão Estudantil, publicada no “Jornal do Dia” de quem Vidigal já era funcionário. Já casado, morando no Monte Castelo, frequentemente almoçávamos um bom pato ao molho pardo, preparado por sua sogra, em seguida, íamos a sua pequena biblioteca para conversar sobre a paixão comum: livros.

Em 1965, tomamos posições diferentes sobre o pleito ao governo do Estado. Trabalhou para José Sarney, de quem foi assessor no Governo do Estado e na Presidência da República. Apoiei Renato Archer, já o sabia de antemão derrotado, mas para ser coerente na resistência ao autoritarismo se configurando na esfera nacional.

Elegeu-se deputado Federal, compatível com a vocação política depois de anos na faina jornalística. Três exemplos de como a atuação em associações estudantis formava lideranças.

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