- JOÃO CONRADO
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Nos últimos anos, o agronegócio tem sido o responsável pelo superavit na balança comercial brasileira. Em 2023, as exportações registram cerca de US$ 340 bilhões contra US$ 241 bilhões em importações, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), representando um saldo positivo de quase US$ 100 bilhões, algo em torno de 60% a mais que no período anterior. O resultado positivo é muito mais por conta de uma queda de 11,7% nas importações do que pelo singelo aumento de 1,7% nas exportações.
Apesar de ser considerado a salvação da lavoura, as exportações do agronegócio não navegam em águas tranquilas (com a devida desculpa pelos trocadilhos). O Brasil vendeu 14,4% a mais de soja e 11,8% de milho, dois produtos importantes no agronegócio maranhense, mas poderia ter tido melhor desempenho. Os custos das operações de comércio exterior parece ser o grande vilão e os gargalos logísticos se destacam como um dos maiores sabotadores de melhores resultados.
De início, a guerra na Ucrânia, os ataques a navios no Mar Vermelho e as turbulências nos canais de Suez e Panamá fizeram o frete marítimo disparar 153% em janeiro de 2024. Esses conflitos desviaram rotas e reduziram o número de navios disponíveis, criando mais obstáculos para o escoamento da produção. Se não bastassem esses imbróglios, a safra de grãos dos Estados Unidos atrasou por conta de problemas de navegabilidade nos rios, coincidindo com a safra brasileira. Por conta disso, os produtores do Brasil e dos Estados Unidos disputam os mesmos navios, pressionando os fretes.
No front interno, os problemas logísticos não são menos impactantes. Problemas de infraestrutura portuária colocam mais lenha na fogueira que alimenta o custo do transporte marítimo a granel em razão do tempo que a embarcação aguarda para operar no porto. No Itaqui, supera a vinte dias, impactando em algo próximo a US$ 20 mil por navio diariamente. Empresas, como a Amaggi, Cofco e Louis Dreyfrus, que operam na região Centro-Oeste, já estão recorrendo a containers para exportar soja, algo que não se via há muito tempo.
O atraso na atracação de navios para carga e descarga não é o único responsável pela baixa eficiência. É preciso considerar todo o processo logístico concentrado em caminhões. São muitos os problemas com esse modal, a começar pelas rodovias malconservadas e não preparadas para o peso dos veículos e muito menos pelo enorme fluxo, colocando em risco a vida de quem precisa dividir pistas com enormes caminhões. Nessa conta devem ser colocados os atrasados com a carga e descarga dos produtos nos portos, decorrentes da falta de capacidade de armazenamento da safra e fluxo dos veículos na área portuária. A consequência, além dos atrasos, são enormes filas de caminhões nas estradas ou em postos de combustível, aguardando sua vez de descarregar, com todos os impactos ambientais e sociais que isso pode causar.
Acrescente-se, ainda, nesse rol de problemas logísticos, as dificuldades operacionais nos portos por conta da burocracia, das chuvas, da falta de equipamentos que possam acelerar o processo e, também, por problemas de qualidade dos produtos. Para se ter uma ideia, balanças descalibradas no embarque na região produtora e no Porto geram diferenças nas medições, criando problemas a serem resolvidos no momento do embarque. Produtos mal selecionados são muitas vezes detectados na esteira que alimenta os navios, interrompendo o carregamento e atrasando o embarque. A incidência de chuvas também atrasa o embarque porque o processo é interrompido porque não há meios de proteger os porões dos navios da entrada de água. Tudo isso somado dá uma ideia da dimensão das perdas que o agronegócio enfrenta, dos prejuízos em toda a cadeia produtiva e a consequente perda de divisas, empregos, renda e desenvolvimento local, algo que o Brasil e o Maranhão não podem prescindir.
Se o agronegócio é tão importante, se representa os sucessivos superávits na balança comercial, se gera emprego e renda para milhares de brasileiros, se é responsável por um dos mais eficientes ambientes de evolução e inovação tecnológica, por que não investir nos diferentes modais para acelerar as operações portuárias? Essa é a pergunta que vale milhões.