A velha lei da oferta e da procura

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  • João Conrado
  • conrado1959@gmail.com

A lei da oferta e da procura está prestes a completar 250 anos e ainda é um dos principais instrumentos para compreender variações de preços de produtos e serviços no mercado. Lançada na segunda metade do século XVIII pelo economista clássico Adam Smith, essa lei explica por que preços sobem e caem à luz de um mecanismo muito simples que é o equilíbrio entre oferta e procura. O economista escocês provou que os preços são reajustados sempre que a oferta entra em descompasso com a demanda. Nada mais simples e mais profundo e, exatamente por isso, a economia passou a partir de então a se tornar uma ciência. O resto é história.

Esse ponto está sendo recordado porque o assunto da semana foi o preço do arroz, que subiu mais de 25% desde o início do ano, a maior alta nos últimos doze anos. O brasileiro, que não perde a oportunidade de fazer piada, aproveitou o aumento para alimentar as redes sociais com postagens engraçadinhas. No entanto, pouco se interessou em saber as causas do aumento e, pior que isso, se as razões que determinaram a elevação dos preços já foram superadas. Não foram, é bom que se diga e isso significa que o arroz ainda pode apresentar novas altas. Um dos principais motivos foi a quebra da safra na Índia, um dos maiores produtores mundiais do produto, acrescida da falta de visão do governo e dos produtores brasileiros, que desandaram a exportar aproveitando o vácuo no mercado e esqueceram de deixar um estoque regulador no Brasil.

Com menor oferta para atender a procura pelo arroz, não deu outra: o preço subiu de forma exponencial. Isso, no entanto, não aconteceu apenas com o arroz. Outros produtos também pegaram carona nesse foguete de tiveram seus preços subindo aos céus, entre eles o leite que subiu mais que o arroz desde o início do ano (quase 28%). Óleo de soja não ficou atrás e foi reajustado em 13%, assim como muitos outros produtos do setor do agronegócio. Frutas, então, nem se fala. O limão teve alta superior a 37%, o preço do mamão subiu 22,4% e o fígado bovino subiu 10%. A carne já vinha em crescente há um bom tempo, obrigando-nos a hábitos mais saudáveis, como comer peixe que, nunca antes no Brasil, esteve em vantagem de preços em relação à carne. Nem tudo foi ruim. Alguns produtos apresentaram queda recente nos preços, como a batata (-14%), cebola (-16%) e feijão (-4%), apesar deste último apresentar alta acumulada em 2020 acima de 18%.

O governo não foi capaz de apresentar soluções para a alta dos preços já que não tem o poder de abastecer o mercado e promover o equilíbrio entre oferta e procura. O máximo que conseguiu foi zerar a alíquota de importação, tornando o preço do arroz importado mais barato. Foi uma medida até certo ponto inócua porque, sem oferta regular dos produtores, não há muito o que comprar. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, só vislumbra solução no próximo ano, quando a safra brasileira começar a dar o ar da graça. Tereza Cristina também contribui para esclarecer o aumento de preços afirmando que a concessão do auxílio emergencial associado ao home-office modificou certos hábitos de consumo do brasileiro, que passou a se alimentar mais em casa e, certamente, comeu muito arroz.

A lição que se pode tirar desse episódio é que alguns reflexos da crise econômica desencadeada pela pandemia ainda não estão muito claros. No início, dez entre dez economistas previam queda generalizada de preços em razão do menor consumo, seja porque haveria desemprego (e menos renda), seja porque as empresas não iriam produzir no mesmo volume que estavam operando. No entanto, o que se viu foi alta de preços em muitos produtos e serviços, alguns que ficaram escassos pela procura exagerada, outros que fizeram reajustes em razão dos custos mais elevados para adequação aos protocolos. O país apresentou queda no PIB, como de resto todos os demais países do mundo, mas o consumo permanece aquecido e pressionando preços. Difícil entender este país.

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