AQUILES EMIR
Em junho do ano passado, numa entrevista à revista Maranhão Hoje, o então prefeito de Cedral, Jadson Passinho Gonçalves, fez um apelo à classe política e, em especial aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que não permitissem a realização do pleito municipal de 2020.
O apelo, além de tardio, teve pequena influência, já que àquela altura havia uma espécie de unanimidade sobre a impossibilidade de adiamento.
Jadson, que estava cumprindo o quinto mandato, disse que não haveria clima para a disputa, porque o povo estava temeroso de uma exposição, pois a campanha e a votação seriam fatores que iriam contribuir para disseminação do covid-19. Para ele, os mandatos deveriam ser prorrogados e a eleição transferida para 2022, quando serão escolhidos presidente, governadores, senadores e deputados, ou seja, mesmo com um valor a mais alto, despesa única.
Não bastasse a ânsia dos que almejavam um mandato, pesou para o não atendimento deste pleito – que, diga-se de passagem, não era só dele, mas de cientistas, parte da comunidade médica, algumas lideranças políticas e outros observadores – a montanha de dinheiro dos fundos partidário e eleitoral, ou seja, ninguém queria abrir mão de torrar mais um pouco do dinheiro público.
A assim a eleição foi feita, o povo se aglomerou, a pandemia voltou e agora quem poderia ter evitado isto reclama, sem, porém, fazer uma autocrítica.
No dia 04 de março, na abertura dos trabalhos do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso, que preside a Corte, fez um discurso que ganhou repercussão em vários veículos, sem merecer um questionamento.
O que disse ele?
“Estamos batendo recordes negativos. Algumas dessas mortes eram, em toda parte do mundo, inevitáveis. Mas muitas eram evitáveis. Nós estamos, infelizmente, vivendo um momento de desvalorização da vida, em que pessoas nos deixam e passam a ser tratadas puramente como números. É muito triste o que está acontecendo no Brasil e é legítimo o sentimento de abandono que as pessoas têm pelo Brasil afora”.
Realmente, ministro, muitas mortes poderiam ser evitadas não fosse a irresponsabilidade dos candidatos na campanha, autorizada por V. Exa.
Nesta quarta-feira (17) foi a vez do senador Roberto Rocha puxar o mesmo assunto:
“Tenho para mim que a conta chegou, a conta da aglomeração das campanhas de 2020. Não poderia ter tido eleições em 2020.”
Realmente, senador, não poderia, mas Vossas Excelências no Congresso nada fizeram para não deixá-la ser realizada.