Bolsonaro sairia grande, enorme, se não tivesse ofendido e ameaçado no Dia da Independência

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Manifestantes pró-governo participam de ato na Esplanada dos Ministérios.

Presidente não pode ignorar o que foi feito por ele e em seu nome

AQUILES EMIR

Ainda é cedo para se saber qual será o desfecho da tumultuada Semana da Pátria, comemorada este ano sob clima de muitas desconfianças, especulações absurdas, ameaças, mobilizações gigantescas e decepções. Certo é que está difícil a exata compreensão e aceitação dos fatos posteriores, tanto por simpatizantes quanto pelos adversários do presidente Jair Bolsonaro.

Estava claro, para a maioria dos brasileiros, que o dia 08 de setembro iria amanhecer com as instituições funcionando, o povo voltando ao batente de trabalho e, óbvio, muita discussão sobre o que representou o Brasil vestido de verde e amarelo no dia anterior, porém o que quase ninguém imaginava era uma guinada de quase 360º no discurso do presidente, que não apenas chamou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal de “canalha”, como o mandou pedir o boné enquanto havia tempo.

Não bastasse isso, pediu para o presidente da Suprema Corte, ministro Luiz Fux, enquadrar seus “comandados” para não acontecer com a instituição o que ninguém deseja. Intervenção e destituição dos seus membros? Vá saber!

No dia seguinte, o “canalha” foi reconhecido, numa Carta à Nação, como extraordinário jurista e professor de Direito e as palavras ditas contra ele foram apenas desabafos brotados no calor da emoção, ou seja, não tinham o sentido que mereceu aplausos das multidões em Brasília e em São Paulo. Apesar de mal recebida e pior ainda sua compreensão, esta carta pode salvar o Brasil, garantem os especialistas.

Até agora, seguidores do presidente não se conformam com essa baixada de bola, já que alguns gostariam que ocorresse uma ruptura entre as instituições. Já os adversários acham que está saindo barato demais para Bolsonaro ter afrontado o Supremo e a democracia brasileira, porém uma carta em que quase pede desculpas pelo que disse e fez está sendo suficiente para jogar panos quentes sobre ele.

Bolsonaro insiste em dizer a seus seguidores que não recuou em nada com sua Carta à Nação. Então seria correto dizer que exagerou nos preparativos para as comemorações da data mais importante para os brasileiros, na qual daria um ultimato aos que perseguem seu governo. Quem?

O presidente não pode dizer que desconhece as movimentações que vinham sendo feitas para ele e em nome dele, com diversos segmentos levantando bandeiras diferentes para um mesmo desfile. Evangélicos, agropecuaristas, políticos, caminhoneiros, artistas e outros formadores de opinião se encarregaram de chamar o povo para aquela que ficará marcada como a maior festa cívica que o Brasil já assistiu, mas que no dia seguinte estava manchada pelas atitudes do presidente, figura central dessas manifestações.

Se os objetivos de Bolsonaro estão sendo alcançados, fica então a lição para ele e seus aliados a fim de que nas próximas manifestações não prometam o que não vão entregar, e os seguidores, principalmente os mais ferrenhos, precisam aprender que nem tudo que estão lhe prometendo será entregue, muito pouco quase nada.

Bom seria que as multidões vistas em todos os cantos do Brasil na terça-feira estivessem mobilizadas e sensibilizadas simplesmente para externar patriotismo, amor pelo Brasil e até mesmo, se fosse o desejo de alguns, apoio ao governo, mas sem criar ilusão de que naquele dia surgiria um novo Brasil, não se sabe se mais livre, mais justo, mais propenso ao desenvolvimento ou se tudo ao contrário. Era apenas uma data, e se tivesse sido comemorada pelo que representa talvez o presidente tivesse saído dela muito grande, enorme, mas acreditado, mais respeitado e até temido por quem planeja golpeá-lo, se não tivesse pronunciado uma ofensa, sem não tivesse feito  uma ameaça, apenas se congratulado com o povo.

Fica a lição para todos atores desse belo espetáculo, que infelizmente não será lembrado apenas pelo que foi, mas para que serviu, e como isto se deu diferente do que estava nas mentes de muitas pessoas.

Bolsonaro sabe, e seus adversários mais ainda, que muitas outras manifestações serão necessárias até o dia da eleição de 2022, e não se sabe se ainda convencerá tanta gente ir às ruas por ele, com o mesmo fervor de 07 de setembro, e no dia seguinte virar alvo de chacota nas redes sociais, nos ambientes de trabalho, na vizinhança etc.

Jair Messias tem dito que para ele restam três alternativas: prisão, morte ou vitória na eleição. É bom ele começar a pensar que opções deixa para quem o segue sem temor.

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