
Cientista dá vida a criatura construída com partes de mortos
SABRINA CRAIDE
A escola de samba campeã do carnaval de 2018 no Rio de Janeiro é a Beija-Flor de Nilópolis. A escola apresentou o enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, baseado no livro de terror Frankenstein, de autoria de Mary Shelley, que completou 200 anos.
Na obra, um cientista dá vida a uma criatura construída com partes de pessoas mortas, tornando-se uma figura feia. No desfile, a figura foi usada para críticas a problemas sociais como corrupção e desigualdades.
Em uma disputa apertada, a campeã ficou apenas um décimo à frente da segunda colocada, a Paraíso do Tuiuti.
As escolas de samba foram avaliadas em nove quesitos: alegorias e adereços, bateria, fantasia, samba-enredo, comissão de frente, evolução, harmonia, mestre-sala e porta-bandeira e enredo.
Enredo – A ideia do enredo é do coreógrafo da comissão de frente da escola, Marcelo Misailidis, a partir do romance de ficção e terror Frankenstein, de autoria de Mary Shelley. Na obra, que agora completa 200 anos, um cientista dá vida a uma criatura construída com partes de pessoas mortas, tornando-se uma figura feia. Depois de rejeitada pelo criador, ela vaga em busca de companhia.
“Daí, para fazer um espelhamento para a nossa realidade foi um pulo. Quem são os nossos doutores Frankenstein? Quem são as nossas criaturas abandonadas? São abandonadas por quê? Por preconceito, por ganância, por corrupção? Onde estão nossos laboratórios de filhos abandonados? Onde estão nossos filhos abandonados? Estão nos sinais de trânsito vendendo doces e balas em vez de estarem nas escolas? Estariam nas filas dos hospitais sem atendimento e morrendo?”, indagou Cid Carvalho, que é um dos carnavalescos que integram a comissão de carnaval da escola.
Esta reportagem é parte da série que a Agência Brasil publica, até o carnaval, sobre os preparativos para os desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. Confira as demais matérias.
A escolha de temas críticos pela Beija-Flor não é inédita. Ainda está na lembrança de muita gente o desfile de 1989, com Ratos e urubus…Larguem a minha fantasia, do carnavalesco Joãosinho Trinta. A alegoria com figurantes vestidos de mendigos que trazia um Cristo Redentor precisou passar coberta por um plástico preto por causa de uma liminar do juiz Carlos Davidson de Meneses Ferrari, da 15ª Vara Cível do Rio, que proibiu a exibição da imagem. Por cima do plástico preto, Joãosinho botou uma faixa: “Mesmo proibido olhai por nós!”. O resultado foi a aclamação do público.
(Agência Brasil)