Pandemia e caos

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  • JOÇAO CONRADO
  • conrado1959@gmail.com

É inegável o impacto provocado pela pandemia da Covid-19 no mundo inteiro. Nenhum país, por mais rico e avançado que seja, ficou imune aos problemas de saúde e econômicos que seguiram ao isolamento. No Brasil, entretanto, o ambiente é de terra arrasada, de catástrofe ou caos. Ninguém se entende, as notícias não se confirmam, os dados não merecem confiança e o cidadão, atônito, não sabe o que fazer.

O que torna o Brasil mais problemático que os demais países são as outras duas crises que vão além da saúde e da economia. Recebemos de lambuja, por ineficiência das autoridades e da imprensa, uma crise política que se agrava dia após dia e uma crise de informação, que redundou em investigação policial para apurar as chamadas fake news (notícias falsas). Diferente do que possa parecer, muita energia e recursos são gastos para apagar incêndios toda vez que a corda estica por conta de alguma declaração intempestiva ou troca de insultos entre autoridades que deveriam estar zelando pelo bem-estar da população.

Enquanto as diferentes facções políticas discutem se há ou não risco de um golpe militar, a economia patina e os índices de contaminação insistem em continuar crescendo. Nada mais previsível, se levarmos em conta a falta de recursos para testar a população, a precipitação em reabrir as atividades econômicas antes de atingirmos a estabilização dos indicadores e o consequente acirramento do desespero econômico, quando se sabe que a liberação das verbas públicas para financiar a camada mais pobre da população anda a passos de tartaruga.

Até o momento em que este artigo está sendo escrito o governo não tinha liberado o empréstimo em condições adequadas para pequenas empresas sobreviverem. Discutem-se questões secundárias, como garantias e informações a respeito do faturamento que vai determinar o valor máximo do crédito. Já se fala na possibilidade de as grandes empresas contraírem esses empréstimos e repassarem, em forma de mercadorias e produtos, para os pequenos negócios. Tem tudo para dar errado, porque os pequenos que não têm crédito jamais vão se beneficiar das condições privilegiadas que teriam se obtivessem o financiamento de forma direta. O mais provável é que haja concentração de crédito subsidiado nas mãos de poucos empresários, como sempre os de grande porte.

Enquanto isso, os empreendedores assombrados procuram se virar como podem. Ideias inusitadas e criativas aparecem em todo lugar como forma de sobrevivência. Os que podem, recorrem às vendas on-line e mantêm o negócio funcionando, ainda que em escala reduzida. Já há registros de práticas de escambo, ou seja, da troca de produtos e serviços, revivendo os primórdios da civilização. Os que não conseguem agir assim, simplesmente demitem os empregados e fecham a empresa, como foi percebido na abertura dos shoppings, com inúmeras lojas com portas arriadas.

Não há como chegar inteiro ao fim desta crise se governo, instituições e políticos não chegarem a um termo de convivência mínima, obviamente com uma trégua da imprensa. Não há nada mais repetitivo hoje do que assistir a telejornais e ver a mesma ladainha dia e noite. Nesse clima de ataque frontal e contra-ataques, só se alimenta a possibilidade de um recrudescimento político que pode levar àquilo que não se deseja. É hora de serenidade.

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