Brizola é e sempre será inspiração para luta social
IGOR LAGO*
Falecido em 21 de junho de 2004, Leonel de Moura Brizola deixou um legado político extraordinário. Hoje, 22 de janeiro de 2022, se vivo fosse (e, de certa maneira, está!), completaria 100 anos. Nascido no seio de uma família pobre e tendo o pai degolado na guerra civil gaúcha quando tinha apenas 1-2 anos de idade, cresceu, educou-se, trabalhou desde menino como engraxate, jardineiro e ascensorista, formou-se engenheiro, mas a política tomou-o da vida comum e corriqueira, como a da maioria de nós, para ser deputado estadual, deputado federal, secretário de Obras, prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul, deputado federal pela Guanabara, governador do Rio de Janeiro por 2 mandatos não consecutivos e candidato por 2 vezes à presidência, à vice-presidência, a senador e a prefeito do Rio de Janeiro. Em suas vitórias e derrotas eleitorais Brizola não se deixava ludibriar pelo poder tampouco pautar-se pelo sabor amargo das derrotas. Era um homem simples e de fibra. Um verdadeiro visionário. Seguia em frente em busca de seu destino, ou melhor, do nosso destino. Brizola entrou para a nossa história, assim como para a história da América Latina, como um político e administrador à frente de seu tempo.
Amargou 15 anos de exílio e voltou mais forte do que nunca a ponto de ser considerado o inimigo número 1 da ditadura militar. Perseguido, vigiado, ameaçado, sabotado, caluniado, Brizola sobreviveu e eternizou-se na memória do povo brasileiro.
Desde sua morte muito aconteceu. Seu partido virou uma das siglas mais abjetas do cenário político brasileiro. Carlos Lupi tornou-se o “dono” do velho partido trabalhista e desfigurou-o. Basta olhar os seus atuais senadores e deputados federais. Já não há quem defenda o negro, o índio, o trabalhador brasileiro, a educação, as reformas sociais e econômicas. O PDT tornou-se uma sigla qualquer mantida com os gordos fundos partidário e eleitoral. Igualmente interessante é ver hoje a esquerda liderada pelo PT cair de elogios àquele que sempre combateu. Ora, quem não se lembra dos anos 80 e 90 quando muitos líderes sindicais, estudantis e padres da Igreja católica referiam-se ao Brizola como a um populista demagogo ou, até mesmo, a um “diabo” a ser derrotado e ignorado? Muitas vezes repetiam os mesmos preconceitos que a ditadura militar ocupou-se em divulgar nos seus 20 anos de existência. Até mesmo o MST oriundo das lutas pela reforma agrária idealizadas pelo Brizola no Rio Grande do Sul não foi capaz de votá-lo para presidente em 1989 e em 1994. Toda essa nova esquerda brasileira combateu e deu as costas ao agora “idolatrado” herói brasileiro. Brizola, já no final de 2003, viu que o governo petista não ia dar em nada. Se tivesse vivido um pouco mais veria que a nova esquerda brasileira foi protagonista dos maiores escândalos de corrupção políticos e administrativos de nossa história, que atrelou o Estado aos interesses partidários ou de grupos para perpetuar-se no poder, que mal geriu o país e causou a maior recessão econômica de nossa história e, para pasmo geral das vanguardas mundiais, hoje anda de mãos dadas com os que defendem leis que dificultam o combate à corrupção.
Para não ocupar ainda mais a paciência do digno leitor, fico a imaginar a reação do velho líder gaúcho, o caudilho no sentido hispânico, ao constatar que o ex-presidente Lula não fez escolas integrais para as nossas crianças e adolescentes, mas encheu os bolsos de alguns empresários do ensino superior com bilhões de dinheiro público.
Apesar de tudo e destes, Brizola deixou-nos um legado que nem os seus detratores ou falsos admiradores pode apagar. Cabe a cada um trabalhá-lo da melhor forma possível para atender às necessidades do povo brasileiro.
Brizola é e sempre será inspiração para a luta social!
Deixo-os com o poema do grande poeta chileno Pablo Neruda em homenagem ao jovem líder político que despontara para as Américas quando governador do Rio Grande do Sul:
“NOVAS ILHAS, NOVOS RIOS, NOVOS VULCÕES FAZEM DO NOSSO CONTINENTE
UMA NOVA GEOGRAFIA.
QUEREMOS NOVA AGRICULTURA, OUTRAS FORÇAS JUVENIS,
UMA SOCIEDADE MAIS PURA,
NOVOS PROTAGONISTAS DA HISTÓRIA QUE ESTÁ NASCENDO
E QUE TEMOS O DEVER DE CONSTRUIR.
QUEM PODE ESTAR CONTRA A VIDA?
CELEBREMOS A CHEGADA DE BRIZOLA
NO CENÁRIO DA AMÉRICA
COMO UMA DESLUMBRANTE ENCARNAÇÃO
DE NOSSAS ESPERANÇAS.
ESTAMOS CANSADOS DA ROTINA DA MISÉRIA,
DE IGNORÂNCIA, DE INJUSTIÇA ECONÔMICA.
ABRAMOS O CAMINHO ÀQUELE QUE ENCARNA HOJE
A POSSÍVEL CONSTRUÇÃO DO FUTURO”.