“Chuvas de agrotóxicos” provocadas em grandes plantações Maranhão são denunciadas à ONU

28
Campo de soja a poucos metros de moradias na Comunidade de Três Lagos, município de Lago da Pedra, Maranhão

Campos de soja ficam muito próximos de comunidades

O relatório “Territórios Vitimados Diretamente por Pulverização Aérea de Agrotóxicos no Maranhão”, desenvolvido pela Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama), da qual o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) faz parte, foi encaminhado no dia 31 de dezembro de 2024 para o relator especial da ONU sobre Substâncias Tóxicas e Direitos Humanos, Marcos Orellana. O relatório foi elaborado em colaboração com a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultoras e Agricultores Familiares do Estado do Maranhão (Fetaema), o Laboratório de Extensão, Pesquisa e Ensino de Geografia da Universidade Federal do Maranhão (LEPENG/UFMA) e o Grupo de Estudos sobre Dinâmica Territorial da Universidade Estadual do Maranhão (GEDITE/PPDSR/UEMA).

O estudo destaca os impactos da pulverização aérea de agrotóxicos por meio de aviões e drones sobre as comunidades rurais do Maranhão. Ao longo de todo o ano passado, foram monitoradas 231 comunidades, distribuídas em 35 municípios maranhenses de diversas regiões do estado. Nesse período, essas comunidades foram atingidas com frequência pelo veneno.

Os dados são alarmantes. Indicam que a pulverização de veneno por meio de aviões e drones se tornou uma prática comum no Maranhão e revelam a contaminação e os danos causados a comunidades tradicionais, quilombolas, assentamentos da reforma agrária e terras indígenas. A situação é ainda mais grave para aquelas comunidades que dependem diretamente da agricultura familiar para a própria segurança e soberania alimentar, mas que perdem a produção quando atingidas pela pulverização de agrotóxicos.

Principais Dados e Resultados 

Conforme o relatório, uma “verdadeira chuva de veneno” cai com frequência sobre regiões onde há expansão do agronegócio, particularmente, das monoculturas de soja e eucalipto. Entre os impactos identificados, destacam-se: 

  • Contaminação das águas utilizadas pelas comunidades para consumo e higiene; Envenenamento dos alimentos, comprometendo a segurança alimentar das comunidades;
  • Perda de produção da agricultura familiar, afetando a principal fonte de sustento de muitas famílias;
  • Adoecimento das populações, com casos de intoxicação aguda e crônica, além de impactos psicológicos causados pelo medo e pela insegurança alimentar e ambiental. 

Conflitos socioambientais e violações de Direitos Humanos 

O relatório também demonstra que a pulverização aérea de agrotóxicos tem sido usada como arma contra as comunidades, especialmente em áreas de conflitos agrários. “Em diversos casos, drones/aviões foram utilizados como verdadeiras armas de guerra para fins de expulsar comunidades de suas terras tradicionalmente ocupadas”, diz o estudo.

Esse contexto de conflito socioambiental é chamado de “Guerra Química” pelas organizações que acompanham os impactos do agronegócio sobre as comunidades rurais do Maranhão.

O estado já é o terceiro maior consumidor de agrotóxicos da Amazônia Legal e tem assistido à expansão do agronegócio, especialmente de soja e eucalipto, sobre a maior parte do seu território que integra a região do MATOPIBA. Como destaca o relatório, “este processo de expansão do uso de agrotóxicos no Maranhão (e no Brasil) foi acompanhado por um amplo processo de flexibilização ambiental, que atende aos interesses de corporações transnacionais que dominam a produção e comercialização de agrotóxicos ao redor do globo.”

O estudo foi encaminhado ao relator especial da ONU sobre Substâncias Tóxicas e Direitos Humanos, Marcos Orellana, juntamente com um mapa que localiza as áreas impactadas pelos agrotóxicos.

“Esperamos que a incidência internacional fortaleça a defesa da vida no campo e jogue luz sobre a relevância e impactos desse tema não só às comunidades, mas à toda a sociedade”, anseia o assessor de políticas públicas do ISPN, Vitor Hugo Moraes. Para ele, o uso de agrotóxicos não pode ser analisado isoladamente, como um fim em si. É necessário considerar a situação de violências e violações que se espalham pelo campo, especialmente no Cerrado, e sua relação de causa e efeito com a expansão do agronegócio.

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Digite seu nome aqui