
SÉRGIO DU BOCAGE
O calendário do futebol mundial passa por reformulações em razão da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Na Holanda, o campeonato nacional foi encerrado sem um campeão decretado.
Nas principais ligas europeias, não há definição sobre o que vai acontecer, assim como aqui no Brasil. No próximo fim de semana deveria começar o Brasileirão, mas agora sequer sabemos como ele será disputado, com a totalidade ou não de suas 38 rodadas por pontos corridos.
Essa incerteza, no entanto, já nos dá uma certeza, confirmada pelo Transfermarkt (site especializado na avaliação de jogadores de futebol). O valor de mercado dos jogadores que atuam no Brasil caiu, alguns mais de 20%. E isso vai impactar diretamente no resultado financeiro dos clubes, já que muitos contam com esses recursos para chegarem ao fim do ano cumprindo suas metas econômicas.
As mais importantes janelas europeias de transferência abrem em 1º de julho, ou seja, daqui a pouco mais de 60 dias. No ano passado, esse mesmo período de transferência, que vai até 31 de agosto, foi dos mais aquecidos. Nos seis principais campeonatos europeus, o volume movimentado, segundo o Transfermarkt, foi: Inglaterra, 2,08 bilhões de euros; Espanha, 1,99 bilhão de euros; Itália, 1,53 bilhão de euros; Alemanha, 1,1 bilhão de euros; França, 1,07 bilhão de euros; Portugal, 469 milhões de euros. No total, pouco mais de 8,16 bilhões de euros.
O Brasil movimentou, entre entradas e saídas, quase 170 milhões de euros. Rodrygo, vendido pelo Santos ao Real Madrid, foi o maior negócio realizado: os espanhóis pagaram 45 milhões de euros. Dos que voltaram, Gérson, comprado pelo Flamengo, custou 11,8 milhões de euros. Valores que não serão repetidos este ano. O meia rubro-negro, por exemplo, que chegou a valer 14 milhões de euros, sofreu uma desvalorização de 21,4% e hoje está avaliado em 11 milhões de euros. O líder do ranking no Brasil é Everton, do Grêmio. Em maio, ele chegou ao valor 40 milhões de euros, mas, de acordo com a atualização do site do último dia 8 de abril, o atacante gremista custaria 28 milhões de euros.
É evidente que haverá venda de jogadores para o exterior. E, infelizmente, por preços abaixo do que dirigentes e, até mesmo, torcedores estimavam. Será necessário para garantir fluxo de caixa, mas também promoverá um prejuízo técnico importante no Brasileirão. A questão é saber se haverá clubes interessados e, mais ainda, se algum dos nossos clubes terá como competir e aguardar pela volta da normalidade, quem sabe na janela do fim de ano.
Mas sempre haverá outra dúvida: será que os valores de agora são os reais? Porque nada impede que, a exemplo do que aconteceu com outros produtos, o jogador de futebol tenha sido inflado numa bolha e agora esteja valorizado na exata medida do que ele representa. Se assim for, corre-se o risco de se perder um bom negócio.
* Por Sergio du Bocage, apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil
(Agência Brasil)