O agronegócio no meio da turbulência

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Setor é um dos que garantem elevados índices de inovação

  • JOÃO CONRADO
  • conrado1959@gmail.com

Definitivamente, 2022 começou com o pé esquerdo. Não bastasse se tratar de um ano político com os candidatos focados na briga de foice e deixando de lado os reais problemas brasileiros, deparamo-nos com uma guerra desnecessária que promete ressuscitar o dragão da inflação e colocar em risco todas as conquistas econômicas desde o Plano Real, há 28 anos.

É verdade que a subida de preços já vinha sendo ensaiada desde o desabastecimento provocado pelas medidas para combater a propagação do Covid-19. As restrições de deslocamento de pessoas, o trabalho remoto e a quase paralisação de alguns modais de transporte provocaram colapso na logística do comércio exterior e, consequentemente, a elevação dos preços. No entanto, a invasão da Ucrânia gerou uma crise imediata no setor de petróleo, provocando a subida dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha como não se via desde as crises do petróleo da década de 1970.

Para completar, o pacote de medidas restritivas impostas à Rússia vem causando arrepios no setor do agronegócio brasileiro. A produção de grãos é fortemente dependente dos fertilizantes russos e não dispomos de reservas que possam suportar uma eventual interrupção de fornecimento. Não foi à toa que Bolsonaro visitou o presidente Putin, dias antes do início da guerra, numa tentativa de garantir o produto, muito embora a viagem tenha sido explorada de forma negativa.

A guerra não poderia ter vindo em pior hora para o agronegócio. Há alguns anos os sucessivos resultados positivos na balança comercial brasileira vêm sendo garantidos pelo desempenho do setor agropecuário. Os números indicam que, se não fosse o agronegócio, estaríamos no vermelho pelo menos na última década. O agro não é pop apenas porque reforça as nossas reservas de moeda forte, mas também porque gera emprego e renda em regiões que eram deprimidas até algumas décadas atrás.

O setor, além de ser tão pujante para a economia nacional, é um dos que garantem elevados índices de inovação. Basta dizer que os ganhos de produção e produtividade estão perfeitamente alinhados com a ciência e o desenvolvimento tecnológico. Estes ganhos de produtividade garantem a exposição positiva do Brasil no cenário internacional como um dos celeiros que irão alimentar a crescente população mundial e evitam elevar as taxas de desmatamento de novas áreas.

Nesse aspecto, em vez de críticas, o encontro com Putin deveria ser apoiado pelos diferentes atores que estão, direta ou indiretamente, vinculados ao agronegócio. Nesse rol, entra toda a cadeia logística, a indústria de máquinas e equipamentos agrários, o setor serviços para a agricultura, a produção de embalagens, a cadeia industrial que transforma a produção agropecuária em produtos ou insumos intermediários, sem contar os milhares de empregos diretos e indiretos e o volume arrecadado em tributos.

Não interessa a ninguém, em sã consciência, agir contra o agronegócio, afinal este será o setor que vai garantir que os cerca de oito bilhões de habitantes do planeta tenham comida na mesa. Estimativas das Nações Unidas projetam que esse número deva chegar a doze bilhões até 2050, a maior parte na China e na Índia, o que indica o enorme potencial de crescimento nos próximos anos. A guerra, portanto, é um balde de água fria na nossa economia.

Muito embora alguns estudos garantam que o Brasil tem reservas de potássio suficientes, o agronegócio brasileiro precisa, antes de qualquer coisa, contornar essa crise. Isso só será possível se conseguir fornecedores em outras latitudes, uma vez que a exploração dessas reservas não se viabiliza de imediato. Além disso, mesmo que a guerra acabe nos próximos dias, o fim das restrições e o restabelecimento do fluxo de recursos para a Rússia ainda deve demorar, o que implicaria no não fornecimento dos fertilizantes em tempo para a próxima safra. Portanto, é mais que necessária a união de esforços para garantir a produção.

 

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