O ano ainda não começou

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O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, durante reunião com parlamentares das bancadas aliadas na sede do governo de transição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

O que se vê, de fato, é muita retórica e pouca ação

É senso comum no Brasil que o ano só começa depois do carnaval. A verdade é que neste ano o carnaval já ficou para trás e o ano parece não ter começado. O novo governo ainda concentra esforços em desmitificar a gestão anterior. A maior parte dos discursos proferidos pelos novos ocupantes dos principais postos no Planalto Central tratam de desqualificar o antigo governo e corrigir aquilo que acreditam ser o errado. Enquanto isso, os dias vão passando, e quase nada de novo acontece a não ser a ressuscitação dos velhos programas do primeiro governo petista.

O que se vê, de fato, é muita retórica e pouca ação. E, por conta dessa retórica muitas vezes amparada em falsas estatísticas, o mercado vive sobressaltado. Promete-se canetadas para baixar os juros, reduzir a inflação, prender baderneiros golpistas, reduzir a distribuição de dividendos das estatais lucrativas, resolver o déficit fiscal e revigorar a saúde pública, entre outras benesses. O que acontece na esteira dessas bravatas é quase o oposto.

Os juros continuam ladeira acima, por conta do eterno desequilíbrio fiscal. O governo elevou os impostos dos combustíveis e desencadeou subida nos preços de muitos produtos. Os baderneiros golpistas estão sendo soltos enquanto verdadeiros baderneiros aterrorizam em frentes diversas, como no Rio Grande do Norte e nas invasões de propriedades produtivas. O Ministro anuncia o esboço de reforma fiscal e não consegue agradar nem a gregos e nem a troianos.  Já na área da saúde, o que se viu foi o restabelecimento do programa que gera empregos para médicos cubanos.

Muito se falou durante a campanha presidencial sobre a ausência de um programa de governo do PT. Esperava-se que após a vitória o tal programa seria mostrado, mas, passados três meses da posse, ainda não se sabe quais os rumos que o país seguirá nos próximos anos.

Algumas ações foram empreendidas, como o apoio à cultura e a redução do número de armas de fogo na posse de pessoas de bem. Isso certamente pode ser contabilizado como pontos positivos. Nas questões ambientais, as promessas ganharam repercussão mundial, principalmente como a exposição da situação dos índios nas suas reservas assediadas por garimpos ilegais. Entretanto, chamou mais atenção a presença de autoridades em eventos internacionais do que resultados concretos.

Talvez seja cedo para cobrar resultados, afinal ainda faltam alguns dias para o fim do período de lua de mel daqueles que tomam posse. Pode ser que sim, mas já passa da hora do novo governo deixar de lado o palanque e começar a agir, cumprindo as suas promessas de campanha. Mais importante do que citar números e dados sem respaldo é realizar ações concretas em prol da classe menos favorecida e mostrar resultados.

A grande imprensa já começa a mostrar impaciência e cobrar esses resultados. Tudo indica que o velho e surrado discurso de terra arrasada já não cola mais, até porque as estatísticas não mentem. É preciso muito mais que discurso de ódio, que busca por punições ou vingança. O governo precisa agir e, para isso, conta com amplo respaldo externo para desenvolver programas que efetivamente possam trazer benefícios para o povo e promover o desenvolvimento. Para isso, em vez de aparelhar os principais órgãos da estrutura governamental com apoiadores, deve escolher uma equipe competente capaz de transformar a realidade do país. É hora de começar a trabalhar e isso implica em abandonar a campanha e começar o governo.

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