Participaram do encontro, os governadores de São Paulo, Espírito Santo, Maranhão e Rio Grande do Sul
A pandemia de coronavírus pode provocar um colapso em hospitais públicos e privados do país até o fim de março. O alerta é de governadores que participaram nesta segunda-feira (15) de uma audiência pública promovida pela comissão temporária do Senado que acompanha a evolução da covid-19.
O governador do Maranhão, Flávio Dino, cobrou da União o pagamento por leitos de UTI criados nos estados. Ele entrou na Justiça para assegurar o credenciamento das unidades de terapia intensiva, que foram desabilitadas no início deste ano.
“Chegamos a ter apenas 300 pacientes com coronavírus internados no Maranhão em dezembro. Hoje vamos chegando a 2 mil novamente. Tivemos uma multiplicação por seis em dois meses, praticamente. São 1.568 leitos estaduais para coronavírus, fora municípios e rede privada. Com ocupação girando entre 80% e 90% há várias semanas”, afirmou.
Flávio Dino defendeu a compra centralizada de medicamentos e insumos para pacientes internados com coronavírus. Para ele, a medida poderia reduzir custos e assegurar a distribuição dos produtos.
“Sabemos que há muitas assimetrias em termos nacionais. Precisamos olhar como está o mercado. Os governadores têm tido há vários meses dificuldade para adquirir insumos estratégicos. Não queremos doação, a gente quer poder comprar insumos que são fundamentais, como anestésicos e bloqueadores musculares. E há sempre o temor em relação ao oxigênio”, afirmou.
Sobrecarga – Já o governador de São Paulo, João Doria, disse que a pandemia de coronavírus provocou sobrecarga na rede hospitalar, especialmente nos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI). Para ele, a estrutura está “à beira de um colapso total”.
Segundo ele, jovens com 18, 19, 20 e 25 anos sendo hospitalizados em UTIs. São Paulo tem a mais robusta estrutura hospitalar da América Latina, em hospitais públicos e privados.
“Já estamos chegando quase a 90% da ocupação de todos os leitos e rapidamente tendo uma necessidade de disponibilizar mais leitos. E o problema não é disponibilizar mais leitos: é não termos recursos humanos. Não há condição de formarmos profissionais para as ações em UTIs. Estamos todos no Brasil vivendo um momento de profunda dificuldade e à beira de um colapso total”, disse.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, advertiu que “a velocidade e a agressividade do vírus” aceleraram a demanda por novos leitos de UTI. Ele relatou que, há apenas um mês, o estado tinha 800 pacientes em leitos para covid-19. Agora, são mais de 2,5 mil, além outros 6 mil em leitos clínicos.
Renato Casagrande, governador do Espírito Santo, disse que a situação do estado se agravou muito na última semana: a ocupação de leitos saltou de 70% para 88%. Ele lembra que a maioria dos estados brasileiros atravessa situação semelhante — o que pode impactar o número de mortos, que já ultrapassa os 278 mil.
Custeio de UTIs – Segundo dados obtidos pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF), dos 12 mil leitos financiados em dezembro do ano passado, a União reduziu o pagamento para apenas 3 mil em todo o país. O governador paulista João Doria, que também entrou na Justiça para assegurar o recredenciamento, classificou como “inacreditável” a postura do Ministério da Saúde.
“A ministra Rosa Weber [do Supremo Tribunal Federal] solicitou ao Ministério da Saúde que dissesse por que não está cumprindo a determinação de homologar os leitos. O Ministério da Saúde disse à Procuradoria-Geral da República que está homologando. Mas não está. Vamos denunciar isso. Em São Paulo, estamos cobrindo o custo no momento mais crítico da pandemia. É inacreditável o Ministério da Saúde desobedecer a uma determinação da Corte Suprema no meio de uma pandemia”, afirmou.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) demonstrou apreensão com o tema. “O que assistimos ao longo do primeiro ano foi o confronto do governo federal com os governadores”, disse.
A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) alertou para o impacto da pandemia sobre o tratamento de outras enfermidades.
(Agência Senado)