Embrapa Cocais discute parceria com Jayme Monjardim para cadeia do babaçu no Maranhão

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Organização conecta pessoas para fomentar terceiro setor 

Representantes do colegiado de chefes da Embrapa Cocais se reuniram com o empresário e diretor de cinema nacional Jayme Monjardim e sua sócia, Nélia Rodrigues, quebradeira de coco babaçu, para tratarem de uma parceria de pesquisa e inovação na região de Palmeirândia (MA). O objetivo é a exploração de terras nativas, investimento local e produção do coco babaçu.

Monjardim representa a Wogi, organização internacional da indústria do bem, que conecta pessoas de diferentes segmentos para fomentar o terceiro setor e gerar transformação social. A empresa já explora as potencialidades da amêndoa do babaçu para fabricação de produtos derivados do babaçu em parceria com quebradeiras de coco e para fomento do desenvolvimento social, empresarial e sustentável da cadeia do babaçu no estado.

“Somos uma comunidade em prol do impacto positivo, unindo forças para melhorar a nossa realidade. Essa relação com o social e poder fazer algo diferente me movimenta. No Maranhão, estamos conversando há cerca de um ano e meio e agora iniciamos a construção desse lindo projeto, o qual estamos chamando provisoriamente de ‘Fazenda Modelo’, mas é algo muito além disso. Iremos implantar, com o apoio da expertise da Embrapa Cocais, um centro de estudos, de aplicação de novas técnicas, novas fórmulas, aproveitando as experiências similares de ambos. Da nossa parte, já realizamos na região o levantamento de toda a biodiversidade e da comunidade, mas sabemos o quanto será importante a participação da pesquisa em todo o processo. Esperamos uma longa jornada de parceria”.

No desenho da parceria, a Embrapa Cocais contribuirá com quatro tecnologias: ferramenta de quebra do coco para separar o mesocarpo da amêndoa; expertise em inovação social com quebradeiras, para que estas tenham organização da base produtiva e autonomia para produzir 500 quilos de amêndoas por dia; manejo da produção de babaçu no sistema Integração Lavoura Pecuária-Floresta – ILPF para produção de carne e leite carbono neutro; e desenvolvimento de novos produtos oriundos do babaçu.

O chefe-geral da Embrapa Cocais, Marco Bomfim, já antevê os resultados e impactos positivos, como inclusão social e desenvolvimento do estado com preservação ambiental. “Vamos aproveitar o que já se tem de conhecimento e tecnologia, melhorar o trabalho de base das quebradeiras e agregar valor aos produtos e subprodutos da palmeira do babaçu. Com certeza, será um caminho novo para nosso produto tradicional da biodiversidade brasileira”.

O chefe de pesquisa e desenvolvimento, Joaquim Costa, ressalta a sintonia de interesses na parceria. “Ambos acreditam no potencial do babaçu para gerar riqueza e renda local com sustentabilidade e para a necessidade de se desenvolver tecnologias que colaborem com o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do Maranhão e do Brasil”.

Para a chefe de transferência de tecnologia, Guilhermina Cayres, a parceria com Jayme Monjardim e seus sócios representa a oportunidade do babaçu ganhar visibilidade junto a outros públicos, trazendo para o Maranhão o protagonismo de valorizar a palmeira como uma espécie da sociobiodiversidade que fortalece a identidade cultural do Estado. “É preciso superar a associação do babaçu com miséria e atraso e promover o babaçu como símbolo de resistência, resiliência, empreendedorismo e negócios sustentáveis por meio de pesquisa e inovação da Embrapa e de outros parceiros institucionais em sinergia com as famílias agroextrativistas do babaçu, principalmente as quebradeiras de coco”.

Nos próximos 30 dias, será discutido mais detalhadamente aportes de ambos os parceiros para a construção do projeto a ser executado com quebradeiras de coco e demais parceiros a serem envolvidos.

Ferramenta para o babaçu – Foi criada pelo pesquisador da Embrapa Cocais Jose Mário Frazão a partir de demandas de quebradeiras de coco para a cadeia de valor do babaçu em oficinas regionais realizadas em diversas regiões do Estado. Nesses momentos, elas compartilharam sonhos para a melhoria de suas condições de trabalho e de vida e proteção à saúde.

Entre eles, o desejo por um equipamento de uso individual, mecanizado, acionado manualmente e acessível economicamente e ainda que não descaracterizasse a essência do extrativismo do coco babaçu e auxiliasse no processamento integral do coco.

Durante o desenvolvimento da ferramenta, foram realizados testes e validação da ferramenta com grupos organizados de quebradeiras de coco nos municípios maranhenses de Itapecuru-Mirim, Caxias, Cajari, Anajatuba, Pindaré-Mirim, Alto Alegre do Pindaré e Lago do Junco. Foram obtidas percepções e sugestões das quebradeiras de coco para melhoria da ferramenta em desenvolvimento. Um primeiro protótipo de estação de trabalho foi colocado, durante dois anos, em operação na Cooperativa Babaçu é Vida, em Itapecuru Mirim, para ser testado pelas quebradeiras de coco. O segundo protótipo foi criado para se adaptar às sugestões colhidas pelas suas usuárias.

O resultado é uma ferramenta acionada manualmente pela mulher que trabalha sentada em uma cadeira de posição regulável, com melhor ergonomia, rendimento do trabalho e aproveitamento integral dos componentes do fruto, agregando valor aos subprodutos e renda para as famílias.  É uma tecnologia social, já premiada como tal pela  Fundação Banco do Brasil.

ILPF com babaçu – A palmeira babaçu como atividade extrativista pode ser usada em sistemas de integração Lavoura-Pecuária-floresta com resultados promissores para produtores de gado e para as comunidades tradicionais do entorno das propriedades. Resultados de pesquisa da Embrapa Cocais demonstram que a utilização do sistema ILPF com a palmeira babaçu como componente florestal possui alto potencial de impacto social, uma vez que valores substanciais de renda (acréscimo de quatro vezes na média de renda) podem ser gerados pelas comunidades do entorno a partir da extração e aproveitamento integral dos frutos da palmeira. Além disso, o sistema pode gerar impactos agronômicos e zootécnicos positivos, como retorno mais rápido do capital investido em recuperação da pastagem; aumento do sequestro de carbono, promovendo a mitigação de gases do efeito estufa; aumento do conforto térmico aos animais, aumento da produtividade de leite e da fertilidade dos rebanhos e, ainda, aumento da taxa de lotação e da produtividade animal por hectare, repercutindo positivamente na renda do produtor rural. Além disso, a presença de babaçu em áreas de pastagens traz melhoria da qualidade da pastagem e do solo e ainda diminuição da erosão, graças ao aporte de matéria orgânica.

Inovação social aberta – A Embrapa Cocais tem experiência em inovação social para a cadeia do babaçu com conjugação de parcerias com setor público e privado. Possui projeto para desenvolvimento de metodologia técnico-científica em parceria com a empresa Conecta Brasil 360 e secretarias de estado do Maranhão com olhar sistêmico e integrado para a cadeia produtiva, alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS. O objetivo é estimular a autonomia, identificação e empreendedorismo coletivo das quebradeiras de coco babaçu com valorização do saber tradicional e do potencial do babaçu como espécie da sociobiodiversidade e identidade cultural do Maranhão. Para isso, busca-se a agregação de valor aos subprodutos e visibilidade e estruturação dos negócios para os produtos oriundo do babaçu, construção da marca, do processo produtivo e do negócio. A iniciativa se espelhou no negócio Delícias do Babassu, gerido por quebradeiras de coco babaçu quilombolas da Comunidade de Pedrinhas Clube de Mães de Anajatuba – MA, onde já existia a comercialização dos produtos de babaçu, mas sem a profissionalização do negócio.

Carne Carbono Neutro (CCN) – É uma marca-conceito desenvolvida pela Embrapa, que visa atestar, por meio de um protocolo parametrizável e auditável, que a carne bovina proveniente de sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta, IPF) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta, ILPF) foi produzida em condições de manejo que asseguram a neutralização dos gases de efeito estufa emitidos pelos animais durante o processo produtivo, o bem estar animal e a qualidade da carne.