A Empresa Brasileira de Pesquisa Abropecuária (Embrapa) apresentou, semana passada, no Rio de Janeiro, o Programa Nacional de Solos – PronaSolos, iniciativa inédita que vai elevar o conhecimento sobre solos do território nacional. O programa vai gerar dados e informações de solos, com diferentes graus de detalhamento, para elevar o conhecimento sobre os solos do Brasil e, assim, subsidiar políticas públicas e gestão territorial, promover a agricultura de precisão e apoiar decisões de concessão de crédito agrícola.
Dentre outras aplicações, destacam-se o incentivo a projetos de irrigação e à estocagem de carbono para mitigar as emissões de gases de efeito estufa – por meio da manutenção ou do sequestro desse carbono no solo – e a obtenção de informações sobre necessidade de aplicação de insumos e nutrientes para a agricultura, evitando o desperdício e a contaminação das águas subterrâneas.
O evento contou com a participação da pesquisadora e chefe-geral da Embrapa Cocais, Maria de Lourdes Brefin (foto principal), que ministrou um workshop sobre metodologias de levantamento de solos, treinamento de pessoal e definição de áreas prioritárias para o PronaSolos. Segundo ela, o mapeamento, especificamente para atividades de agropecuária e floresta, vai fornecer dados para que se obtenha ganhos de produtividade e políticas de uso eficiente de insumos, dentre eles, os fertilizantes, aumentando a competitividade e a sustentabilidade da agricultura brasileira.
Além disso, o maior conhecimento dos solos vai permitir diminuição das áreas degradadas e recuperação das já existentes. O programa poderá, ainda, subsidiar a construção de estradas, o planejamento de cidades e a escolha de áreas de deposição de resíduos, dentre outros. “O solo, juntamente com a água, é o berço da agricultura e responsável pela fixação e do homem à terra. É preciso conhecer melhor nossos solos, para garantirmos a sustentabilidade econômica, social e ambiental do planeta, garantindo a nossa sobrevivência e a das gerações futuras”, disse ela.
Escalas do estudo – O PronaSolos será um programa de longa duração e está previsto para ser feito em três etapas com prazos curto (0 a 4 anos), médio (4 a 10 anos) e longo (10 a 30 anos). Na primeira fase, serão estudados solos em áreas prioritárias, escolhidas pelas instituições participantes, em cada estado, quando será feito um levantamento de solos e as interpretações associadas para cerca de 430 mil km2, equivalentes às áreas dos estados de São Paulo e Paraná, somadas.
No âmbito da Embrapa, foi aprovado um projeto para lançamento das bases de implantação do programa, com duração de um ano. Esse enquadramento traduz a importância e o reconhecimento dos trabalhos sistemáticos de levantamento de solos reeditados no Brasil pela Embrapa e seus parceiros. O principal resultado deve ser entregue ate janeiro de 2018, com detalhamento da implantação e a implementação de um Programa Nacional de Levantamento e Interpretações de Solos, que será apresentado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e à Casa Civil da Presidência da República.
A necessidade desse Programa surgiu em resposta a um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU), de 2015, Ano Internacional do Solo, que constatou insuficiência e inconsistência nas informações oficiais sobre solos e sua ocupação no País. Segundo o TCU, não existem dados e informações de solos em escala adequada para a tomada de decisão; o nível de conhecimento sobre solos não é suficiente para definir as atividades agropecuárias e florestais, bem como para as ações de conservação e recuperação do solo e da água, seja feito ao nível de microbacias hidrográficas, conforme estabelece a legislação atual; e dificuldade de acesso aos dados e informações existentes, por parte dos tomadores de decisão, visto que não há um sistema único de dados e informações de solos no país, que permita aos usuários, a interpretação desses dados para gerar novas informações.