A pandemia de coronavírus forçou diversas empresas a se reinventarem para atravessarem o longo período de quarentena imposto pelos governos estaduais e municipais como estratégia para conter a proliferação do covid-19. Algumas dessas empresas não retornarão às suas atividades, outras vao funcionar com dificuldades e há outras que descobriram na crise na solução para alguns dos seus problemas.
O contador e consultor de empresas João Conrado de Carvalho, que preside o Conselho Regional de Contabilidade (CRC-MA), numa entrevista exclusiva à revista Maranhão Hoje, analisa como as empresas vão ter de estar preparadas para a fase do pós-pandemia.
Confira a entrevista:
- Que lições os empreendedores podem tirar da pandemia de coronavírus?
- Empreendedores lidam com o risco e eles aprenderam que nem todas as ameaças que podem afetar um negócio são previsíveis. Os empreendedores devem estar mais preparados para as turbulências do mercado, mantendo reservas para superar momentos difíceis.
- Trabalhos como de home office tendem a se manter e se ampliar? Por quê?
- Certamente o home office estará cada vez mais presente na vida das empresas e empregados. O isolamento acelerou o processo de trabalho em domicílio que vinha se instalando lentamente. As empresas entenderam que é possível trabalhar dessa forma sem perda de qualidade e produtividade e, ainda, com redução de custos. Os empregados também se beneficiam por poder se ajustar melhor e não perder tanto tempo com deslocamentos.
- O e-commerce ganha força?
- O e-commerce já vinha assumindo papel cada vez mais importante no mix de vendas das empresas. As compras on-line já estavam presentes em boa parte dos negócios e, com a pandemia, aquelas empresas que ainda tinham dúvidas ou estavam avaliando a implantação do e-commerce foram obrigadas a se ajustar para não parar. Trata-se de um avanço irreversível.
- As empresas que não trabalham com delivery, e-commerce terão de se reinventar e criarem esses serviços?
- É bem provável que a maior parte das empresas que não trabalhavam com delivery e e-commerce passaram a trabalhar instantaneamente quando os clientes foram obrigadas a ficar em casa. Muitas foram pegas de surpresa e não estavam tecnologicamente equipadas para prestar um bom serviço. No entanto, ajustaram-se rapidamente e mantiveram-se ativas. Aquelas que não adotaram esse tipo de vendas terão que se reinventar ou tendem a desaparecer.
- E a classe trabalhadora, o que tem para se adequar?
- Os empregados terão mais benefícios que problemas com o trabalho em casa. Terão ganhos de qualidade de vida, porque podem ajustar seus horários de forma mais conveniente, muito embora percam um pouco da privacidade em decorrência das inúmeras reuniões on-line. Um fato ficou patente neste período de isolamento e home-office: é preciso que as empresas proporcionem condições aos empregados para que possam trabalhar à distância, munindo-os de bons equipamentos e sinal de internet adequado.
- O serviço público também terá de se reinventar?
- Eu creio que o serviço público já se adequou aos novos tempos, ou pelo menos parte dele. Muitas atividades foram mantidas à distância, como o legislativo e boa parte do judiciário. Muitas escolas e universidades públicas implantaram as aulas on-line. No geral, grande parte dos serviços públicos se manteve ativo, mesmo à distância. Em resumo, o isolamento social decorrente da pandemia acelerou o processo de adequação de empresas públicas e privadas ao ambiente on-line. Os ganhos mais impactantes ocorreram na área de educação à distância, saúde e comércio. Não há mais porque não ter um sistema de cobertura de internet geral que mantenha todos interligados e que permita o funcionamento de todos esses aplicativos que facilitam a vida do cidadão. É preciso melhorar a logística para garantir as entregas e o abastecimento. O mundo passa por mais uma transformação profunda e rápida e não podemos ficar paralisados, esperando algum milagre. Nós, profissionais e empresas, teremos que nos adaptar ao ambiente ou correremos o risco de ser extintos.