Salões de automóveis não morreram, pelo menos na China

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Comunicação digital não é suficiente para vender carros

Os cancelamentos de vários salões internacionais de grande porte durante o período da covid-19 foram um grande golpe para os organizadores e também para o público mais fiel. Mesmo com o fim da pandemia, há uma grande dificuldade em restaurar as tradicionais exposições por seu alto custo e a perda de fôlego financeiro dos fabricantes às voltas com os altos investimentos necessários para a transição aos veículos elétricos.

Entretanto, este cenário contrasta com o visto agora no 20º Salão de Xangai (desde 1985). Inaugurado no dia 18 e aberto até o dia 27 deste mês, são nada menos que 320.000 m² e cerca de 100 carros novos ou extensivamente melhorados. Sem esquecer de que mesmo durante a pandemia, em 2021, a exposição foi realizada.

Como bem disse o CEO da BMW, Oliver Zipse: “O que guia os clientes chineses hoje, guia o mundo amanhã”. Na mesma toada segue a revista inglesa Autocar sobre os lançamentos na mais populosa cidade da China: “Pode esquecer qualquer último vestígio da produção de carros inferiores ou imitadores de outras marcas. Em estilo, trem de força e qualidade de construção, os melhores modelos chineses são absolutamente páreo para seus equivalentes europeus. E em termos de tecnologia digital, muitas vezes são superiores.”

Entre as curiosidades no estande decorado por mais de 80.000 tulipas vermelhas vivas da subsidiária da Volvo focada apenas em carros elétricos, a Polestar, está o modelo 4, um SUV cupê que eliminou o óculo traseiro. Em vez deste, o motorista verá uma tela de alta definição mostrando imagens amplas captadas por uma câmera montada no teto e virada para atrás. As duas marcas suecas são propriedade da chinesa Geely.

Entre as europeias a BMW apresenta seus últimos lançamentos, apostando em duas fórmulas: o SUV híbrido plugável XM Red Label de 748 cv e o sedã elétrico de grande porte i7 M70 de 659 cv e alcance de até 550 km. Também chama atenção o carro-conceito i Vision Dee.

Outra estreia, o SUV grande Mercedes-Maybach EQS também elétrico e potência de 668 cv, aproveita que Rolls-Royce e Bentley ainda não lançaram modelos deste tipo.

A VW lança o sedã elétrico topo de linha ID.7, de porte do Passat (5 m de comprimento), com motor traseiro de 285 cv e alcance de até 700 km em função da bateria escolhida.

Nissan mostra o carro-conceito Max Out, um conversível de dois lugares que deve estrear a bateria de estado sólido, muito superior às atuais, e também o SUV Arizon, de estilo bem estranho.

Entre as várias novidades das chinesas, destaque para o cupê esporte BYD Yangwang U9 com um motor elétrico em cada roda e um controle inteligente de movimentos da carroceria. A GWM apresenta sua nova tecnologia híbrida Hi4.

Comunicação digital não é suficiente para vender carros

As novas gerações que nasceram no mundo digital e querem comprar um veículo novo iniciam suas buscas em sites, revistas digitais, redes sociais, YouTube e blogs especializados. Segundo as pesquisas internacionais mais recentes 96% dos jovens seguem esse caminho.

Entretanto, na hora de fechar negócio 80% deles procuram uma concessionária física também de acordo com as pesquisas. Negociar olho no olho, presencialmente, permite maior interação e quase sempre se consegue um melhor resultado seja no preço, condições de pagamento, brindes em forma de acessórios ou outras vantagens negociadas no ato.

Claro que as concessionárias já perceberam isso e trataram de se adaptar aos novos tempos. Nas cidades grandes e médias os interessados querem agilidade e agora dificilmente visitam mais de uma ou duas lojas. Daí surgiu a necessidade de desenvolver e focar no chamado marketing digital.

Eder Polizei, doutor e mestre em Administração pela FEA/USP e diretor da agência Seven7th para o setor automobilístico, chama atenção para um ponto muitas vezes esquecido. “Quando falamos de marketing digital, nos referimos mais a marketing e menos a digital. Em outras palavras quero dizer que uma comunicação digital sem um correto estudo e robusto plano de marketing, são meros bits e bytes”, assegura.

Portanto, há de se ter equilíbrio e continuar a apostar numa boa atmosfera no salão de vendas, sem exageros na decoração e sempre treinar muito bem vendedores e atendentes. Pesquisas podem ser digitais, mas na hora de fechar negócio nada como uma boa conversa no velho conhecido mundo físico.

ALTA RODA

  • Mesmo sem anunciar um plano definido para produção de veículos elétricos (VE) no Brasil, a GM acena para essa possibilidade logo que o mercado atingir escala de vendas compatível. O presidente da empresa, o colombiano Santiago Chamorro, reafirmou o potencial do País em termos de matéria-prima para produção de baterias, engenharia qualificada, parque industrial bem desenvolvido e grande mercado consumidor em potencial. Ele confirmou a importação de três modelos (dois já informados, Blazer EV e Equinox EV; o terceiro poderá ser a Silverado EV) que ainda serão lançados nos EUA, mas já têm participação do Centro Tecnológico de São Caetano do Sul (SP) e do Campo de Provas da Cruz Alta em Indaiatuba (SP). Estas duas instalações atuam em áreas de eficiência energética, conectividade, testes de certificação e homologações para adequar os VE à legislação e às preferências de cada mercado.
  • Agora no começo de abril a versão de topo Exclusive do Sentra chegou às concessionárias e animou os vendedores do sedã médio. Seu estilo é marcante, em especial o desenho do teto. A dianteira e a traseira também se destacam. Interior impressiona em especial pelos bancos dianteiros e traseiros com conforto bem acima da média (tecnologia Zero Gravity). O que não agrada são o freio de estacionamento por pedal, o que afasta a possibilidade de auto-hold (embora libere volume para o bom porta-objeto entre os bancos) e a tela multimídia de apenas 8 pol. Faltam o carregamento de bateria do celular por indução e saída de ar-condicionado para o banco traseiro, embora três adultos se acomodem com espaço para ombros e pernas acima da média.
  • À primeira vista o motor 2-litros (gasolina) de 151 cv pode parecer insuficiente, mas o perfeito casamento com o câmbio CVT de oito marchas surpreende. Não é tão rápido, mas fica longe de se considerar lento. Gostei especialmente da resposta da direção, sua correta definição de centro e assistência elétrica no nível exato. Freios a disco nas quatro rodas e suspensão traseira multibraço estão de acordo – e até certo ponto sobram – para seu nível de desempenho. Porta-malas de 466 litros é muito bom.

 

 

 

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