Democrata e republicano debateram terça-feira
Ouvidos pela Sputnik Brasil, analistas apontam que a candidata democrata, Kamala Harris, teve um desempenho melhor no debate presidencial contra o republicano Donald Trump, mas seu rival ainda tem boas chances na disputa graças ao “núcleo duro” de seu eleitorado. Os candidatos à presidência dos Estados Unidos se enfrentaram na noite de terça-feira (10) no que é apontado como possível único debate entre ambos até o dia da votação, marcada para 05 de novembro.
Natália Nóbrega de Mello, professora de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que o debate não foi decisivo para a eleição, no sentido de promover uma mudança significativa nas pesquisas, indicando um crescimento maior de Harris ou Trump.
“Acho que particularmente ela o irritou no momento em que ela fala que os eventos dele são muito cansativos, que as pessoas saem entediadas, vão embora mais cedo. Isso o deixou bastante irritado e falando de uma maneira um pouco mais agressiva, um pouco mais desestabilizada e que a coloca em uma imagem mais presidenciável e ele como uma figura um pouco instável”, avalia.
Ela aponta que Harris trouxe para o debate propostas políticas, sociais e econômicas que tinham como alvo a classe média trabalhadora americana, apresentando as questões de maneira mais concreta.
“E isso é uma coisa que está totalmente ausente na fala dele [Trump]. A fala dele é basicamente do medo, [dizendo que] a economia e a política estão péssimas no governo Biden-Harris, e vai ser pior ainda só com Harris. Ele fala do medo o tempo todo, jogando para o medo na política externa também, [dizendo que] vai ser horrível, que vai ser a Terceira Guerra Mundial, que ela é fraca, que os EUA teriam um líder fraco que ninguém no mundo confia”, afirma.
Ela acrescenta que essa retórica de Trump vem acompanhada de afirmações de que com ele será diferente.
“Esse medo dela sendo colocado junto, o tempo todo, com ‘Mas eu consigo, eu posso, eu sou um líder de que as pessoas ficam temerosas. A guerra na Ucrânia sequer teria ocorrido [com ele na presidência]. Eu vou reconstruir os EUA, fazer a América grande de novo’. Mas que nunca se coloca claramente em termos de planejamento. Isso eu acho que funciona bem com a base dele, mas eu não sei se isso traz para ele novos votos.”
Por sua vez, Thomas Ferdinand Heye, professor do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest) da Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que “Kamala Harris, ao contrário do candidato democrata anterior, o presidente Joe Biden, demostrou claramente que é capaz de conquistar eleitores indecisos e até mesmo recuperar o interesse na eleição entre segmentos do eleitorado que manifestaram sua intenção de sequer se registrar para votar”.
“Ao não conseguir alcançar a fatia do eleitorado indeciso, que em última análise definirá o resultado da eleição, Trump se revela estagnado e com pouca chance de ampliar o número de votos a seu favor”, afirma.
O especialista aponta ainda que Trump manteve sua atual estratégia de campanha de tentar “colar em Kamala Harris a equivocada pecha de marxista radical”, mas que a tentiva falhou, o que acabou “reforçando a impressão de que Trump não tem nada de novo para apresentar nesta eleição”.
Harris se saiu bem, mas ‘titubeou’ em questões complexas
“Caso ela tivesse tido outras posturas mais propositivas, teria se saído ainda melhor frente a um Donald Trump que ficou exaltado várias vezes.”
Alguns dias antes do debate, analistas apontaram que a campanha de Trump estudava uma abordagem diferente, com o republicano assumindo uma postura mais moderada. Porém Nathana afirma que se essa estratégia foi cogitada, Trump demonstrou que não busca ou não consegue implementar uma versão mais pacífica de si mesmo.
“Ele até teve uma postura em relação à Kamala de buscar ser menos sexista, menos racista, interrompê-la menos ao longo do debate. No entanto, ele teve muitos problemas em tentar colar na Kamala uma postura de comunista radical. Ele buscou falar sobre isso, mas teve muita dificuldade de colocar isso logicamente em uma linha de raciocínio.”
“No entanto, para sacramentar essa vitória ele precisa de outros fatores, como conquistar alguns [eleitores] independentes e impedir que a candidata democrata tanto conquiste os independentes quanto movimente a bolha de eleitores democratas.”
(Com informações da Agência Sputnik)