AQUILES EMIR
Uma aldeia indígena localizada, no povoado Bahias, em Viana (MA), foi atacada neste domingo (30) por moradores da área armados com facões e armas de fogo. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo menos 13 índios foram feridos, um deles tiveram as mãos decepadas e cinco foram baleados.
Os indígenas feridos foram transferidos para o Hospital Socorrão 2, em São Luís, sendo que dois que teriam sido alvo de tiros de raspão no rosto já receberam alta nesta segunda-feira, e os demais seguem internados. No caso mais grave, um deles teve uma mão decepada, o joelho cortado e está com uma bala alojada na coluna e outra na costela. Ainda não há confirmação sobre a autoria do ataque, mas a área é disputada por fazendeiros da região.
A Rádio Maracu de Viana entrevistou, sexta-feira (28), diversos moradores da área do conflito em que denunciam estarem sendo vítimas de ataques dos que consideram “pseudos” indígenas. Eles estariam sendo estimulados por lideranças religiosas a invadir as propriedades (fazendas, sítios, chácaras etc), onde matam os animais, destroem as plantações, se apropriam de objetos e depois da destruição abandonam e vão atacar outras.
Na entrevista, o deputado Aluísio Mendes (PTN) falou por telefone e disse estar mediando um entendimento com o Ministério da Justiça e a Fundação Nacional do Índio (Funai) para resolver o impasse. De acordo com Aluísio Mendes, caso não haja uma intervenção do Estado vai se estabelecer uma tragédia na região.
A Secretaria de Direitos Humanos do Maranhão informou que vai destacar uma equipe para investigar o caso e ouvir os indígenas transferidos para São Luís. De acordo com a secretaria, o governo do estado está agindo para garantir a segurança na área.
Esta não é a primeira vez em que os gamelas são alvo de ataque. Nos dois últimos anos, foram registradas duas tentativas de ataques a tiros, mas os suspeitos foram expulsos pelos indígenas. Em 2016, o Tribunal de Justiça do Maranhão suspendeu a integração de posse da área. O pedido foi solicitado por um empresário da região e aceito pelo juiz local.
Os dados sobre os feriado ainda são parciais, os números de baleados e feridos podem aumentar, pois muitos do Gamela se espalharam no mato após a investida dos proprietários de terra. O Cimi diz que os autores dos ataques estavam reunidos para atacar os indígenas desde o início da tarde, nas proximidades do Povoado da Bahias, numa área chamada de Santero.
Na manhã desta segunda-feira (1º), dois Gamela receberam alta: um levou um tiro de raspão na cabeça e teve apenas uma das mãos machucadas e o segundo levou um tiro no rosto e outro no ombro. Os demais seguem internados: dois em estado grave, correndo risco de vida, e passaram por intervenções cirúrgicas. “Um deles levou dois tiros, uma bala está alojada na coluna e a outra na costela, teve as mãos decepadas e joelho cortados. O irmão dele levou um tiro no peito. Outro teve as mãos decepadas”, relata integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Em Viana e nos municípios do entorno, os feridos receberam atendimento médico com cortes de facão pelo corpo e lesões diversas. Relatos de áudio, ao menos de três moradores da cidade circulam trazendo informações de que boatos correram ainda à noite, horas após a ofensiva contra os Gamela, sobre ataques a serem realizados contra os indígenas na unidade de pronto-atendimento, fazendo com que muitos saíssem do local após os primeiros socorros.
“Tememos novos ataques a qualquer momento. A concentração de jagunços segue estimulada e organizada no Santero, o mesmo lugar de onde saíram ontem pra fazer essa desgraça com o povo da gente. A polícia tá dizendo que não foi ataque, mas confronto. Não é verdade, fomos pegos de tocaia enquanto a gente saía da retomada. Mal podemos nos defender, olha aí o que aconteceu”, diz um Gamela que não identificamos por razões de segurança. Já os moradores também dizem temer ataques dos indígenas, que estariam sendo insuflados por líderes religiosos.
O Governo do Estado do Maranhão, por intermédio das secretarias de Segurança Pública e Direitos Humanos, está informado dos fatos. A Fundação Nacional do Índio (Funai) também foi notificada e a intenção é envolver o governo federal na garantia dos direitos humanos e de proteção aos Gamela – sobretudo porque a avaliação dos indígenas é de que as polícias Militar e Civil são próximas dos principais opositores da pauta do povo, que na região sobre com racismo e preconceito sendo constantemente taxados de falsos índios.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão, que cuida dos assuntos ligados aos povos indígenas e quilombolas na Procuradoria-Geral da República (PGR), estão analisando formas de intervenção na situação. A Relatora da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, será comunicada nas próximas horas sobre o ataque contra os Gamela. Em Nova York (EUA), o Fórum Permanente de Assuntos Indígenas das Nações Unidas está reunido desde a semana passada e conta com uma delegação do Brasil de indígenas Munduruku, Yanomami, Baré e Kanamary, além da Repam, Cimi e Fian.
(Com dados e imagens do Cimi)