
São Luís não dispõe de espaço para exaltar sua cultura
AQUILES EMIR
Quando Flávio Dino se candidatou à Prefeitura de São Luís em 2008, numa palestra a empresários do trade turístico, no Abbeville Hotel, no bairro do São Francisco, manifestou sua incompreensão pelo fato de a capital maranhense, famosa pelo seu patrimônio literário, considerada a Athenas do Brasil, numa referência à capital grega, não possuir memoriais para exaltar personalidades que se destacam no campo da cultura, pelo heroísmo, pelo saber jurídico, liderança política etc.
Dito isto, se comprometeu, se eleito prefeito, criar esses espaços para homenagear os grandes vultos da cidade e do Maranhão como um todo, de preferência nas praças que têm seu nomes: Gonçalves Dias, João Lisboa, Antônio Lobo, Odorico Mendes, Catulo da Paixão Cearense e outros.
A ideia se completa a outras que defendem memoriais também para os movimentos culturais, artísticos, esportivos…, mas Flávio Dino não se elegeu, contudo seis anos depois alcançou um cargo ainda mais relevante, o de governador do estado, e quando colocou em prática essas ideias fez por um outro viés.
Nos sete anos anos e quatro meses em que esteve no Palácio dos Leões, Flávio Dino criou dois memoriais, um em homenagem ao ritmo musical jamaicano Reggae, que foi introduzido fortemente na cultura local, e outro em respeito ao gaúcho João Goulart, ex-presidente da República, e por pouco não sacrificou o do único maranhense a chegar à Presidência da República, José Sarney.
O debate sobre a necessidade desses espaços merece um aprofundamento, principalmente agora depois que o Maranhão se auto intitulou dono do Maior São João do Mundo, e até hoje não haver uma sala sequer que reúna objetos e história dessa manifestação cultural, que é tão diversificada e diferenciada, por estar associada mais ao Bumba meu boi do que às festas de forró e quadrilhas dos outros estados nordestinos, com destaque a Campina Grande (PB), Mossoró (RN) e Garanhuns (PE), que também reivindicam o título de maiores do mundo em festas juninas.
Certo é que se o Maranhão teve dinheiro para criar e dispõe ainda de orçamentos para manter um Museu do Reggae e o Memorial João Goulart, por que não buscar meios para valorizar também um pouco da cultura do seu povo?
O espaço ideal para o Memoria do Bumba Meu Boi – olha a s!ugestão aí – seria o Parque Folclórico da Vila Palmeira, que passa a maior parte do ano ocioso, e dispõe de espaços suficientes para criação de um amplo museu e cessão de barracas aos principais grupos folclóricos: Maioba, Pindaré, Maracanã, Iguaíba, Morros, Axixá, Santa Fé e outros.
Nesse espaço haveria lugar ainda para exaltar os grandes nomes dessa manifestação cultural: João Câncio, Coxinho, Humberto, Chiador, Chagas, Zé Alberto e tantos outros que têm sua toadas na ponta da língua de muitos maranhenses.
Num espaço nos moldes do Museu do Futebol de São Paulo, o visitante poderia interagir e ouvir toadas dos diferentes sotaques: Matraca, Baixada, Orquestra, Zabumba…, e sair do parque abarrotado de souvenirs: chapéus, miniaturas de boi, camisas, enfeite de geladeira, pinturas, canetas e tudo o mais que se encontra em qualquer lugar em que se cria um projeto desse nível.
Seria um local onde haveria também, a exemplo da Cidade do Samba, no Rio de Janeiro, agenda de espetáculos o ano inteiro, ou seja, sempre que chegasse a São Luís o visitante teria oportunidade de conhecer a manifestação que leva suas autoridades a se vangloriarem de estarem patrocinando o maior festejo do Planeta.
Desculpem a pretensão, mas o tema merece ser debatido mais aprofundadamente, até porque está passando da hora se se criar esse equipamento de cultura em São Luís.
