Falta de regulamentação prejudica o mel de Tiúba do Maranhão, diz pesquisadora da Unesp

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A pesquisadora Rachel Torquato Fernandes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acaba de concluir tese de doutorado sobre mel de Tiúba, que oferece um gosto ácido e menor teor de açúcar e é um produto muito apreciado no mercado local e regional do Maranhão, onde recebe uma atenção ainda maior por não ser produzido em grande escala. “A produção sofre entraves à comercialização por falta de uma legislação que regulamente estes méis”, diz a pesquisadora Rachel Torquato Fernandes.

A abelha que elabora esse mel é encontrada em todos os ecossistemas do Estado, atingindo ainda o Pará, Piauí e Tocantins, regiões de fronteira com o Maranhão. Rachel explica que “as dificuldades na comercialização e na ampliação do mercado do mel da abelha Tiúba e de outras abelhas nativas são em razão da falta de uma legislação que estabelece os requisitos de identidade e qualidade do produto”, diz.

Rachel defendeu tese de doutorado que determinou as características de qualidade do mel de Tiúba (Melipona fasciculata) produzido em duas Bacias Hidrográficas do Estado do Maranhão (Munim e Pericumã), tendo como referência as características do mel de Apis Mellifera L. O estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Alimentos da Unesp de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.

Uma das características da abelha Tiúba é não possuir ferrão, ao contrário da abelha mais conhecida nos criatórios do Brasil, a Apis Mellifera, que tem ferrão, e é amplamente difundida no mundo na produção de mel. “Por ser a mais comercializada, são os padrões físico-químicos do mel da Apis que estão presentes na normativa internacional e brasileira”, diz a pesquisadora, que é engenheira agrônoma.

Segundo ela, como não existe uma normatização nacional para o mel das abelhas nativas – que se dá pela carência de conhecimento do produto – a identificação de suas características pode auxiliar as iniciativas de regulamentação. “Com identidade e normatizado, a comercialização do mel pode ser ampliada, fica mais fácil controlar as falsificações e, ainda, garantir ao consumidor que o produto é de fato o mel declarado no rótulo”.

Perfil da Tiúba – Para determinar as características da qualidade do mel de Tiúba, a engenheira agrônoma avaliou a qualidade microbiológica (condição sanitária do produto); a variação físico-química (umidade, açúcares, acidez, pH, sólidos, cinzas, entre outras); sensoriais (cor, viscosidade, aroma, sabor); e as interações com o meio ambiente (temperatura, umidade, luz).

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No quesito integridade microbiológica, o mel pode apresentar na origem, zero contaminação microbiológica, confirmando o hábito higiênico de coleta das abelhas; baixo teor de açúcar (o que pode ser vantagem para a saúde do consumidor); mediano teor de umidade; moderada acidez; de médio a alto teor de minerais; baixa viscosidade (que o torna mais fluido); e cor variável tendendo para as mais escuras.

Com relação ao sabor também é variável: “este fator que depende das fontes florais visitadas pela abelha na coleta de néctar”, diz Rachel. Ele pode oferecer sensações bucais de leve ardência e gosto levemente ácido.

“O mel tem características que muitas pessoas nas regiões de produção valorizam porque percebem o produto mais palatável e menos enjoativo, e tradicionalmente acreditam nas suas propriedades medicinais”.

Obstáculos – De acordo com a engenheira, vários estudos confirmam as diferenças físicas e químicas entre o mel da abelha Apis mellifera com o mel de outras abelhas nativas. O mel da Apis tem viscosidade e teores de açúcares bem maior e a umidade menor, sendo menos fluida e menos aquosa.

“Por essa razão, avaliar a qualidade do mel de abelhas nativas considerando os valores dos parâmetros estabelecidos na legislação nacional é problemático, pois haverá divergência”, explica Rachel. Eles podem ser inseridos no mercado aproveitando nichos especiais como produto nobre e raro da biodiversidade brasileira.

“Não há como enquadrar as características do mel de abelhas nativas em um padrão que não seja próprio delas. As abelhas têm seu padrão natural. Cabe a nós conhecermos, buscarmos identificá-lo de modo a permitir basear uma normativa para o mel de meliponíneos (abelhas nativas)”, ressalta.

A professora Ana Carolina Conti e Silva, orientadora do estudo, complementa que o trabalho de Rachel é de fundamental importância por oferecer suporte às futuras ações de desenvolvimento da cadeia produtiva do mel no Estado do Maranhão, garantindo a qualidade do mel de Tiúba e expandindo sua comercialização para fora do Estado.

Atualmente o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de mel (Apis), com uma produção aproximada de 38 mil toneladas e oitava posição no ranking mundial de exportadores, segundo os dados de 2015, os mais atuais.

A pesquisa faz parte do projeto interinstitucional, coordenado pela Unesp, Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Instituto Federal do Maranhão (IFMA), financiado parcialmente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão (Fapema

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