Mia Couto me transportando para o estado da loucura

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Os sonhos nos trazem estranhas revelações

AQUILES EMIR

Das muitas lições de vida que ouvi do escritor moçambicano Mia Couto, no evento da Academia Ludovicense de Letras, nesta quinta-feira, dia 02 de junho, no Teatro do Sesc, em São Luís, uma das que me despertaram mais atenção foi quando comparou o sonho a uma transposição para o estado de loucura, pois é ali que ocorrem as coisas mais improváveis.

De fato, nos sonhos vamos a lugares nunca idos (alguns que provavelmente nunca iremos) e a outros que nem existem; encontramos pessoas com quem jamais estivemos e jamais estaremos; fazemos coisas que nosso dinheiro não alcança; enfim, vivemos uma grande fantasia, que, muitas das vezes, nos incomodam dias a fio.

Saído daquela palestra, ao chegar à minha casa fiquei tentando organizar na mente um resumo para quando dela recordar poder extrair o máximo que puder de ensinamentos e citar a alguém, querendo exercitar erudição: o ataque dos leões a pessoas numa aldeia de Moçambique que ele testemunhou; o sentir da presença em sua casa, ali na África, do avô que morava em Portugal; os horrores da guerra civil pela independência do seu país (que o Mundo ignorava, apesar das mais de 1,7 milhão de mortes); o aluno imperfeito que foi na sala de aula etc.

Não esqueci também da justificativa por ele dada para não conceder autógrafos, mesmo estando várias de suas obras à venda naquele local e que foram fartamente consumidas pelo público que foi prestigiá-lo: é que hoje em dia, além do autógrafo, o escritor tem de posar para uma self, o que, fazendo as contas, se vender 200 livros, serão quase três horas de dedicatórias, muitas delas com o mínimo de sinceridade.

Pois bem, voltemos à loucura do sonho. E não é que isto de fato se deu comigo na noite passada! E uma das personagens do sonho era exatamente Mia Couto!

O sonho deu-se no estacionamento do Teatro do Sesc (Condomínio Fecomércio), mesmo local em que ele proferiu a palestra, e o escritor apareceu de bermudas brancas, camisa de malha azul marinho e sapatilhas sem meias, como se estivesse recém-liberto de uma agenda de trabalho, e quisesse um pouco de liberdade, mas ainda assim consentiu que algumas pessoas posassem com ele para uma foto.

Quem organizava a foto – que coisa! – era uma vizinha que na vida real nem sabe quem é o famoso escritor, portanto jamais poderia saber que ele estava em São Luís e nem teria motivação para ir a esse tipo de evento, e foi ela quem me apresentou a Mia Couto como sendo o responsável pela organização do evento que possibilitou sua vinda ao Maranhão, tarefa, que, na vida real, foi muito bem executada por Alexandre Lago, da Academia Ludovicense de Letras.

Não sei ao certo (coisas de sonho) porque a foto não deu certo, mas todos que estavam prontos para serem fotografados se dispersaram e eu aproveitei aquele momento, em que ficamos a sós, para me aproximar do escritor.

– Mia, eu sou Aquiles Emir, que lhe enviou aquele e-mail

E ele, olhando-me com um sorriso que parecia dizer “sim e daí?”

– Pois é, eu lhe mandei aquela mensagem…

E ele olhando-me, como se esperasse a conclusão do que eu realmente queria dizer, mas como não sabia, acordei, ou seja, o sonho que me deu uma oportunidade tão rara na vida acabou sem que eu tivesse tirado dele o melhor proveito. Saí do estado da loucura.

Cada coisa de maluco!

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