Daniel Blume assume cadeira 15 e é recepcionado pela mãe
AQUILES EMIR
Os convidados para a solenidade de quinta-feira (02) na Academia Maranhense de Letras não conseguiram evitar a emoção, que emocionou também a oradora, com o discurso feito pela acadêmica Sônia Almeida para recepcionar o novo imortal da Casa de Antônio Lobo, o advogado Daniel Blume. Ninguém melhor do que ela para descrever a vida do novo acadêmico, pois, afinal de contas, é sua mãe, por isso iniciou o discurso cantando Força Estranha, de Caetano Veloso, na qual diz “eu vi o menino correndo, eu vi o tempo correndo ao redor do caminho daquele menino…”
O novo acadêmico fez do seu pronunciamento uma viagem no tempo desde a infância, passando pela vida universitária e o ingresso na advocacia, quando a poesia já havia ingressado nele, para mostrar que sua ida para o seleto grupo de membros da AML não foi obra do acaso, mas consequência de uma dedicação à vida literária, sem pretensões de chegar onde chegou.
Como de praxe, discorreu sobre a vida e obra do patrono da Cadeira 15, que assumiu, Odorico Mendes, político, tradutor, poeta, publicista e humanista, mais conhecido pelas primeiras traduções integrais para português das obras de Virgílio e Homero. Mencionou também os seus antecessores: Godofredo Viana (fundador), Silvestre Fernandes, Erasmo Dias e Milson Coutinho.
Aos dois últimos, fez dedicação especial pelo que deixaram de contribuição à cultura nacional pelas suas obras genuinamente maranhenses. Erasmo, que foi deputado estadual, é autor de romances e novelas e fazia parte de uma geração em que boêmia e intelectualidade pareciam entrelaçadas.
Já Milson Coutinho, como advogado e desembargador (foi presidente do Tribunal de Justiça), deixou seu legado no campo do Direito, mas foi como historiador que premiou os maranhenses com um volume de obras reconhecidas nacionalmente pela importância que têm para se compreender o Maranhão.
O menino – Sônia Almeida, por sua vez, ainda que tenha procurado ser apenas uma acadêmica seguindo o cerimonial da solenidade, não conseguiu deixar de ser, naquele momento, a mãe do novo imortal.
Como testemunha maior de sua vida, brincou com palavras de canções de Caetano Veloso, Gonzaguinha e outros. “Eu vi a mulher preparando outra pessoa, o tempo parou para eu olhar para aquela barriga…”, disse ao falar de sua gestação pelas palavras de Caetano em Foça Estranha e concluiu citando a mesma canção: “a vida é amiga da arte…”
Sõnia relatou como Direito e Literatura sempre motivaram a obra do filho, que ora é obrigado a estar preso a um nó de gravata para cumprir suas obrigações profissionais e em outros precisa desatar os nós da inspiração para o poeta produzir literatura.
Diante daquele momento, singular na Academia, pois pela primeira vez um dos seus membros saudou um parente, e este era filho, recorreu a Gonzaguinha, que na música Sangrando diz que “tudo aquilo que você ouvir, esteja certa que estarei vivendo… Veja o brilho dos meus olhos e o tremor das minhas mãos. E o meu corpo tão suado, transbordando toda raça e emoção…”, concluiu.
Para o presidente da AML, Carlos Gaspar, a singularidade daquele momento não poderia ter desfecho melhor, pois foi a saudação mais emocionante já registrada nos últimos anos na casa dos imortais do Maranhão.