Família prepara relançamento de duas obras do escritor
AQUILES EMIR
Em 2022 comemoram-se 70 anos do lançamento de um dos mais importantes romances já escritos no Maranhão, que é uma das maiores produções literárias da Língua Portuguesa e deu ao seu ator o reconhecimento da crítica especializada, bem como o Prêmio Coelho Neto, outorgado pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Trata-se de O Outro Caminho, do médico e padre João Mohana.
E para comemorar as sete décadas desse feito, a família Mohana está preparando uma solenidade, marcada para dia 15 de junho, na Academia Maranhense de Letras, em São Luís, para relançamento da obra. Na mesma oportunidade, além de O Outro Caminho, será relançado Maria da Tempestade, outro romance famoso do Padre Mohana.
Escrito no curto intervalo de 27 dias, o romance de 1952 narrado em primeira pessoa é, para muitos, a história do próprio autor, que relata o drama existencial de Eyder, que se torna padre para atender aos pedidos da família. O caráter autobiográfico ganha ainda mais consistência pelo ambiente em que se dá a narrativa, a cidade de Viana, na Baixada Ocidental Maranhense, onde João Mohana, que é natural de Bacabal (MA), passou boa parte da infância e da adolescência, até mudar-se para a capital do estado, São Luís.
A vida de Eyder e João Mohana são parecidas, havendo apenas uma inversão: o autor da ficção estudou Medicina, mas depois da morte do pai foi seguir sua principal vocação, o sacerdócio, ingressando no Seminário de Viamão, no Rio Grande do Sul. Foi como padre que ficou mais conhecido e amado por muitos maranhenses.
A história de Eyder, em O Outro Caminho, é narrada pelo seu irmão Neco, que apenas reúne as 200 folhas de papel escritas a lápis em que o personagem narra sua vida:
“Há alguns anos vinha com vontade de publicar a vida de meu irmão. Não se trata da vida de um herói, na concepção em que geralmente se usa esse termo. Posso dizer que foi um herói, mas herói a seu modo. Sempre foi meu intento escrever um livro sobre meu irmão e estava apenas esperando a morte dele, para poder realizar esse desejo. O meu trabalho, entretanto, foi bem facilitado, pois encontrei mais de 200 folhas escritas a lápis, contanto justamente aquilo que eu pretendia contar. Li-as avidamente e me surpreendi com as coisas que jamais poderia ter dito, pois só o próprio dono poderia dizer. Não cortei, não emendei, não modifiquei. Conservei o manuscrito com a beleza original, com a nota do autor.’’, escreve Neco.
Crítica – Sobre essa obra, a escritora e jornalista Raquel de Queirós escreveu na revista O Cruzeiro, em 1952:
“Recomendo a todos que se interessam por literatura nacional o livro desse maranhrnse. Sempre é perigoso predizir o futuro de um autor pela sua estreia; nunca se sabe se ele tem dentro de si apenas aquela história para contar, ou se, pelo contrário, o primeiro livro é o início de uma obra importante e sempre em ascensão. De qualquer maneira, um romance único basta para fazer um romancista: e parece-me que, com este romance, já conseguiu o autor um lugar seguro na literatura nacional”.
Machado da Fonseca, na revista Verbum, também em 1952, escreveu que “O romancista de O Outro Caminho pode estar certo de que penetrou em um mistério que, ao meu ver, nem o genial Bermanos conseguiu propor nos seus elementos principais. Há páginas no seu livro, de inexcedível força e de uma suprema beleza, como as do capitulo X, logo após a descrição do pecado”.
(Com informações da revista Revista Bula)