O que temos para hoje

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A inflação vai continuar subindo e vão faltar produtos

  • JOÃO CONRADO
  • conrado1959@gmail.com
  • João Conrado é colaborador da revista Maranhão Hoje.

Ninguém mais acredita em uma mudança no cenário internacional no curto prazo. Independente do que já foi feito e do muito que ainda vai se fazer em termos de diplomacia, a Rússia está atolada na Ucrânia e não consegue encontrar um jeito honroso de sair. Por conta disso, não só os ucranianos vão sofrer com o alongamento da crise, mas também o resto mundo. A inflação vai continuar subindo, vão faltar produtos e os mercados vão ficar cada vez mais difíceis de serem abastecidos por conta do gargalo logístico.

Na contramão, o Brasil alavancou negócios com a Rússia e, dessa forma, vem conseguindo manter um certo nível de abastecimento dos principais produtos oriundos da Rússia. Isso pode até dar um fôlego para os nossos produtores, mas o custo dessa decisão certamente será cobrado mais adiante, quando as coisas voltarem ao normal. De qualquer forma, o governo brasileiro tem um motivo nobre para justificar ficar em cima do muro: é preciso manter viva a galinha dos ovos de ouro, o agronegócio.

Nesse cenário tão turbulento, o governo já percebeu a oportunidade de focar no ambiente interno e promover algumas mudanças no alto escalão, ressuscitando algumas ideias e projetos que andavam engavetados. Nessa seara, conseguiu acelerar a privatização da Eletrobras, aprovada no TCU, apesar dos protestos de alguns políticos e lideranças que só conseguem entender o estado comandando os meios de produção.

Na sequência, o novo ministro aproveitou para encomendar estudos para privatizar a Petrobras, a nossa maior estatal e fonte dos últimos escândalos que abalaram a República. Concomitante, o presidente do Senado declarou que a ideia só passa por cima do seu cadáver, o que joga pelo menos uma pá de cal na privatização.

Paulo Guedes, outra alma que andava meio apagada, reapareceu com uma tentativa de acelerar a reforma tributária, propondo algumas medidas paliativas, como a redução das alíquotas do imposto de renda e contribuição social das empresas em troca da taxação dos dividendos. Alega ele que tais medidas beneficiarão as empresas, que se tornarão mais atrativas para investidores, o que é verdade. Porém, não esclareceu que esses mesmos investidores contam sempre com o retorno do seu capital sob a forma de distribuição de lucros, que serão doravante tributados, caso a reforma passe nesses termos.

A essa altura, o leitor atento já percebeu que todo esse esforço do governo brasileiro perde um bocado do seu brilho por conta do cobertor curto que é a nossa política fiscal. O orçamento não comporta perda de receitas, portanto o nosso Posto Ipiranga não está oferecendo nenhuma redução da carga tributária, como alguns podem querer acreditar. O mais provável é a taxação dos dividendos gerar maior arrecadação e fustigar os investidores. Dito de outra forma, o tiro vai sair pela culatra.

A privatização da Petrobras e da Eletrobras pode trazer recursos para o governo honrar seus compromissos orçamentários, reduzir o endividamento e, de quebra, proporcionar condições para que essas empresas cumpram com os objetivos para os quais foram criadas. Ambas não têm capacidade de aportar a montanha de investimentos que são exigidos para explorar seus segmentos e a privatização pode resolver esse problema. Não dá para esquecer que, privatizadas, essas empresas deixam de ser preocupação para as autoridades encarregadas de fiscalizar a probidade administrativa de cada uma delas.

Levando em conta o ano eleitoral, a guerra sem previsão de acabar e os seus reflexos na economia, algo precisa ser feito de imediato, mas o mais provável é que o processo político dificulte qualquer ação antes das eleições. Se não há consenso em torno do melhor caminho a ser trilhado por esta nação, o que temos para hoje é absolutamente não é nem mesmo o feijão com arroz do que precisa ser feito. O Brasil continua empacado em um modelo de muito discurso e pouco resultado.

(Com imagem do portal Capital.com)

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