
AQUILES EMIR
Uma das revelações mais surpreendentes do empresário Emílio Odebrecht, dono da construtora Odebrecht, sobre sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi divulgada nesta sexta-feira (14) pelo jornal O Globo. Segundo a reportagem, os dois são amigos há mais de trinta anos, e esta amizade vem desde quando o ex-presidente ainda era líder sindical e aceitou um pedido para acabar com uma grave no polo petroquímico de Camaçari, na Bahia.
Segundo Emílio , quem lhe apresentou Lula foi Mário Covas (ex-deputado, ex-senador e ex-governador de São Paulo). Quando pediu que Lula resolvesse o problema da greve dos seus empregados, “ele (Lula) criou as condições para que eu pudesse ter uma relação diferenciada com os sindicatos”, relata o empresário.
O dono da Odebrecht disse que Lula tem a intuição de um animal. “Ele pega as coisas rápido. Ele percebe aquilo que tem a ver com intuição pura. É um animal político, um animal intuitivo”, diz o empresário.
Odebrecht conta que sempre “apoiou Lula”, com conselhos e financeiramente. Um dos pontos em que o empreiteiro teria ajudado a orientar a visão de mundo do petista foi na confecção da famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, o documento divulgado durante a campanha de 2002 por Lula para serenar os ânimos do mercado financeiro em relação a sua possível eleição.
Emílio disse que a sua empresa contribuiu para todas as campanhas de Lula, e quando este era presidente, qualquer que fosse o problema enfrentado pela empresa, ia até o Palácio do Planalto pedir a intervenção do chefe da República. E era quase sempre atendido. O empresário só chamava Lula de “chefe”, mas parece se gabar de, apesar da proximidade, nunca ter tido relação íntima, ou ter frequentado a casa do petista:
“Só estive uma vez no apartamento de Lula quando era sindicalista. E foi a melhor coisa que eu fiz. Pra ele e pra mim. A nossa relação, eu sou muito transparente. Eu gosto do Lula, confio nele, valorizo ele”, conta.
Com Lula instalado no Planalto, Emílio tinha a liberdade de ir até o presidente e reivindicar que negócios feitos pela Petrobras em prejuízo da Braskem (braço da Odebrecht) fossem desfeitos, o que acabou acontecendo. Em outro momento, foi a Lula impedir que a Petrobras comprasse os ativos da Petroquímica Ipiranga, o que detonaria os planos da subsidiária da Odebrecht de espraiar seus mercados.
“Como negócio, seria um desastre”, resume Emílio aos procuradores. Dois anos depois de conseguir impedir o negócio, a própria Braskem comprou a Petroquímica Ipiranga.
Mais adiante, já no segundo mandato de Lula, em 2007, Emílio precisou dele devido a um problema na hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, obra tocada pela Odebrecth. Uma das licenças ambientais que deveriam ser dadas ao empreendimento pelo Ibama estava travada por conta da reprodução dos bagres, que ocorria justamente no local previsto para a barragem.

“Eu disse: ‘O país precisa de energia e vai ser paralisado por causa do bagre? O senhor precisa tomar uma decisão’. Ele perguntou se eu já tinha falado com a ministra Dilma eu disse que sim, mas que era inócuo. ‘O senhor já deve ter percebido que eu não tenho simpatia por ela, que é muito dona da verdade. É uma pessimista em tudo’”, relatou Emílio ao procurador, revelando que não estendeu a relação que mantinha com Lula à sua sucessora.
Lula encampou a tese da empreiteira e transformou o episódio do bagre em uma referência frequente em seus discursos sobre como havia demora excessiva na concessão de licenças ambientais. O caso marcou o enfraquecimento da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que acabou deixando o governo.
As ajudas de Lula a Emílio foram recompensadas não apenas com as doações, que Emílio garantiu que ocorreram por meio de caixa um e caixa dois:
“Fique certo: Lula não conversava comigo sobre isso, sobre os valores. Mas quero deixar uma coisa muito clara. Eu quando falava com (Pedro) Novis (presidente da Odebrecht antes de Marcelo Odebrecht assumir) e com Marcelo eu não dava a opção de dar ou não dar. Eu dizia: negociem, mas é para dar”.
(Com dados de O Globo e imagem principal de Heinrich Aikawa/Instituto Lula)