Cunha diz que Janot queria sua delação para derrubar Michel Temer

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Numa entrevista concedida à revista Época, que chega às bancas neste fim de semana, o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) revela que sua delação premiada não se concretizou porque o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, queria que ele acrescentasse mentiras com o objetivo de derrubar o presidente Michel Temer (PMDB). Cunha, que se considera um “um preso político”, é uma das personagens mais temidas, pois sua delação pode derrubar muita gente, e ele está disposto a contar tudo que sabe à procuradora-geral Raquel Dodge.

Na entrevista, Cunha falou da vida na prisão, da negociação frustrada de delação acusou a existência de um mercado de delações premiadas, revelando detalhes substantivos. 

Segue alguns trechos da da entrevista:

  • Sobre sua disposição de delatar – “Estou pronto para revelar tudo o que sei, com provas, datas, fatos, testemunhas, indicações de meios para corroborar o que posso dizer. Assinei um acordo de confidencialidade com a Procuradoria-Geral da República, de negociação de colaboração, que ainda está válido. Estou disposto a conversar com a nova procuradora-geral. Tenho histórias quilométricas para contar, desde que haja boa-fé na negociação”.
  • Sobre o porquê de não ter aceitado delatar a Rodrigo Janot – “Topei conversar para mostrar a todos que estou disposto a colaborar e a contar a verdade. Mas só uma criança acreditaria que Janot toparia uma delação comigo. E eu não sou uma criança. O Janot não queria a verdade; só queria me usar para derrubar o Michel Temer. Tenho muito a contar, mas não vou admitir o que não fiz. Não recebi qualquer pagamento do Joesley  [Batista, dono da JBS] para manter silêncio sobre qualquer coisa. Em junho, quando fui depor à Polícia Federal sobre esse episódio, disse que tanto não mantinha silêncio algum que ninguém havia me chamado a colaborar, a quebrá-lo. Naquele momento, o Ministério Público e a Polícia Federal me procuraram para fazer colaboração. Autorizei meus advogados a negociar com o MP”.Capa edição 1006 (Foto: Época )
  • Sobre o que deu errado nessa delação – “Janot queria que eu colocasse mentiras na delação para derrubar o Michel Temer. Se vão derrubar ou não o Michel Temer, se ele fez algo de errado ou não, é uma outra história. Mas não vão me usar para confirmar algo que não fiz, para atender aos interesses políticos do Janot. Ele operou politicamente esse processo de delações”.
  • Sobre o que tem de errado na delação de Joesley Batista, dono da JBS “O Joesley fez uma delação seletiva, para atender aos interesses dele e do Janot. Há omissões graves na delação dele. O Joesley poupou muito o PT. Escondeu que nos reunimos, eu e Joesley, quatro horas com o Lula, na véspera do impeachment. O Lula estava tentando me convencer a parar o impeachment. Isso é só um pequeno exemplo. Eu traria muitos fatos que tornariam inviável a delação da JBS. Tenho conhecimento de omissões graves. Essa é uma das razões pelas quais minha delação não poderia sair com o Janot. Ele, com esses objetivos políticos, acabou criando uma trapalhada institucional, que culminou no episódio do áudio da JBS. Jogou uma nuvem de suspeição no Supremo sem base alguma”.
  • Sobre sua prisão – “Minha prisão foi absurda. Não me prenderam de acordo com a lei, para investigar ou porque estivesse embaraçando os processos. Prenderam para ter um troféu político. O outro troféu é o Lula. Um troféu para cada lado. O MP e o Moro queriam ter um troféu político dos dois lados. Como Janot já era meu inimigo, todos da Lava Jato estavam atrás de mim. Mas acredito que o Supremo vá julgar meu habeas corpus, parado desde junho, e, ao seguir o entendimento já firmado na Corte, concedê-lo”.
  • Sobre o juiz Sérgio Moro – Nós temos um juiz que se acha salvador da pátria. Ele quis montar uma operação Mãos Limpas no Brasil – uma operação com objetivo político. Queria destruir o establishment, a elite política. E conseguiu.

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