Ricardo Saud silencia e Roberto Rocha insinua que JBS financiou Flávio Dino

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O ex-diretor de Relações Institucionais da empresa J&F, Ricardo Saud, recusou-se a responder perguntas de senadores e deputados durante reunião da CPMI da JBS, nesta terça-feira (31). A comissão de inquérito investiga irregularidades em contratos entre a empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Uma das perguntas foi formulada pelo senador maranhense Roberto Rocha (PSDB), que queria saber quem é o 16º governador que teria recebido dinheiro da JBS em 2014, já que ele citou esse número, mas listou apenas 15. Saud pediu que ele consultasse os autos, e o senador interveio. Segundo ele, o 16º é Flávio Dino (PCdoB), cujo nome não consta na lista por pressão do procurador Nicolao Dino, irmão do governador. Rocha lembrou que o PCdoB recebeu R$ 13 milhões dos irmãos Joesley e Wesley Batista e tinha apenas um candidato a governador, o do Maranhão.

Ricardo Saud e os irmãos Batista estão presos desde setembro no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Eles teriam mentido e omitido informações no acordo de delação premiada firmado com a Procuradoria Geral da República. O ministro do Luiz Edson Fachin, Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu os benefícios do acordo.

No início da reunião, Ricardo Saud fez um breve pronunciamento: “Eu vou permanecer em silêncio, dentro de meu direito constitucional. Tão logo as premissas do acordo sejam restabelecidas, ninguém tem mais interesse de falar do que eu”, disse.

O presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), chegou a propor que a reunião fosse reservada, com a presença apenas de parlamentares. Mas Ricardo Saud afirmou que, ainda assim, não responderia aos questionamentos. “No dia que for falar, faço questão que estejam todos presentes. Não me escondo atrás de ninguém para falar. Quando minhas premissas forem restabelecidas, quero falar e muito”, acrescentou.

O ex-diretor da J&F negou que tenha mentido no acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público. Ele também se comprometeu a entregar à CPMI cópias de documentos já encaminhados à Procuradoria Geral da República sobre doações a políticos. “Eu fiz mais de 30 anexos, todos documentados. Posso por à disposição todos os documentos. Se a Procuradoria ainda não deu (os documentos à CPMI), eu tenho cópia de tudo. Eu quero ajudar o país. Mas a primeira vez que eu sentei pra falar a verdade, eu fui preso. Então já pensou se eu continuar falando? Então, vou ficar calado”, explicou.

O relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), chegou a fazer perguntas a Ricardo Saud. O parlamentar queria saber, por exemplo, se o ex-diretor acompanhou Luiz Edson Fachin em visitas a senadores antes da sabatina do então indicado a ministro do STF, em janeiro de 2016. Marun perguntou ainda se Saud sabia que Joesley Batista iria gravar uma conversa com o presidente Michel Temer. “Vou permanecer em silêncio”, respondeu o diretor.

Marun irritou-se com o depoente. E disse acreditar que o acordo de delação premiada suspenso pelo ministro Luiz Edson Fachin não será renovado.

“A chance de isso acontecer é menos que zero. O senhor é funcionário da empresa. O senhor é um peão. Se não quiser passar anos demasiados na cadeia onde está, o senhor deve começar realmente a dizer a verdade sobre tudo isso. A única chance que o senhor tem de sair ainda novo da cadeia é falar a verdade que ainda não apareceu”, frisou Marun (foto).

O senador Ataídes de Oliveira perguntou se Ricardo Saud teria interesse de fazer um novo acordo de delação premiada, desta vez apontando irregularidades cometidas pelos irmãos Batista. Mas Ricardo Saud, que foi à reunião da CPMI acompanhado pelos mesmos advogados que representam Joesley e Wesley, recusou-se a responder.

Requerimentos – A CPMI da JBS aprovou nesta terça-feira requerimento para a convocação, como testemunha, do procurador Eduardo Botão Pelella. Ele trabalhou como auxiliar do então procurador Geral da República Rodrigo Janot. Palella havia anteriormente sido convidado a depor à comissão, mas negou-se a comparecer.

Senadores e deputados aprovaram ainda a convocação do empresário Victor Garcia. Ele teria intermediado o recebimento de propina no exterior para obter a liberação de dinheiro em contratos com o BNDES.

A CPMI também aprovou a realização de uma teleconferência com o advogado Rodrigo Tacla Durán, ex-consultor do grupo Odebrecht e especialista em direito internacional. Os parlamentares decidiram ainda realizar duas audiências públicas sobre o instituto da delação premiada.

(Agência Senado)

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