Há explicações para esta decisão da primeira empresa automobilística instalada no Brasil, em 1919
Há explicações para esta decisão da primeira empresa automobilística instalada no Brasil, em 1919. A mais importante é a mudança de foco da companhia tanto no mercado americano quanto no mundial. Em 2018 anunciou que continuaria a produzir apenas picapes e SUVs, mantendo o Mustang como exceção, além dos elétricos.
A renúncia à produção de automóveis (hatches e sedãs) só terá a Europa como exceção. Mesmo no caso do velho continente pode haver uma parada definitiva mais adiante. Arquitetura do Fiesta de geração anterior, não mais produzida, é a base do Ka e do EcoSport que agora saem de produção. A nova geração do compacto europeu é cara e o seu futuro, incerto.
A situação econômica do Brasil, agravada pelas consequências da pandemia da covid-19, foi a outra razão apontada explicitamente. Foram pelo menos cinco anos de altos prejuízos, acompanhando a trajetória da crise política e a recente superdesvalorização do real frente às principais divisas.
Um aspecto pode parecer paradoxal, mas não é. A atividade fabril na Argentina continuará, apesar de problemas econômicos e políticos até mais graves que os brasileiros por incluir mais uma moratória de sua dívida externa. O país vizinho produz a Ranger, dentro do escopo mundial da companhia. E a legislação argentina oferece incentivos fiscais para picapes, tanto que a Hilux é o produto mais vendido no mercado local. Apesar de a Toyota como marca estar atrás da VW, a líder em vendas totais.
A Ford confirmou que o plano para produção da Ranger inteiramente nova continua. A próxima geração estreia em 2023. Até a operação de montagem, a partir de conjuntos CKD, do furgão Transit está confirmada no Uruguai já este ano. Ambos os modelos serão exportados para o Brasil e isentos de imposto de importação.
O México é outro país que exporta para o Brasil sem pagar II. De lá chegarão o SUV Bronco Sport, a picape intermediária Maverick e o SUV elétrico Mustang Mach-E. Dos EUA virá o Escape (também na versão híbrida).
A Ford sustentou desde sua separação da VW na Autolatina, em 1995, a quarta posição entre as marcas mais vendidas. Mas Hyundai e Renault acabaram superando-a. O mote da companhia americana continuará focado na rentabilidade. Participação de mercado será a que for possível.
Por fim, não dá para esquecer do alto custo de produzir no Brasil e da insanidade tributária existente há décadas. Quem sabe depois do fechamento de quatro fábricas da Ford e uma da Mercedes-Benz, em menos de dois meses, alguma mudança parta de Brasília.
(Texto publicado originalmente em UOL)