AQUILES EMIR
Celas ao ar livre, os chamados “gaiolões”, como o de Barra do Corda, onde um comerciante morreu nesta segunda-feira (09), existem em várias delegacias do Maranhão, inclusive na capital, e são do conhecimento das autoridades há anos. A afirmação é do presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Maranhão (Adepol), Marconi Lima, que esclarece ser essa estrutura de conhecimento das autoridades desde 2000, ou seja, há 17 anos, tendo passado por esse período cinco governadores sem que se tenha tomado qualquer providência contra eles.
Pelo que relata o delegado Marconi, os “gaiolões foram licitados, construídos e pagos entre 2000 e 2002, isto é, quando ainda era governadora, Roseana Sarney (PMDB), e secretário de Segurança Pública o hoje deputado estadual Raimundo Cutrim (PCdoB), tendo passado depois pelos governos (com seus respectivos secretários de Segurança) de José Reinaldo Tavares (Raimundo Cutrim), Jackson Lago (Eurídice Vidigal), novamente Roseana Sarney (Aluísio Mendes) e agora Flávio Dino (Jefferson Portela), sem que houvesse qualquer questionamento.
Vale lembrar que o atual secretário de Segurança, além de ter sido delegado geral na gestão de Eurídice Vidigal, entre 2007 e 2009, foi presidente da Adepol, não havendo a menor possibilidade de dizer que desconhecia sua existência.
Proteção – O objetivo dessas construções, segundo o presidente da Adepol, era criar um ambiente seguro nos pátios das delegacias de polícia para banho de sol de presos custodiados e para colocar, provisoriamente, aqueles que ainda aguardavam formalização de suas prisões para não entrarem em contato com outros presos, ou seja, não foram criadas para serem usadas como celas em que os presos são submetidos a frio e calor.
“Em Bacabal havia um antigo, aí o Fantástico (programa da Rede Globo) foi lá, filmou e o secretário Aluísio (Aluísio Mendes, hoje deputado federal pelo Podemos) chamou de jaula. Chamou mas não fez nada, só mídia”, lembra o presidente da Adepol,que não isenta a gestão atual de culpa: “Aí mudou governo, o tempo passou e os tais gaiolões continuam até hoje, fato público e notório”.
Sobre a existência de “gaiolões” em outros municípios, o delegado diz que são muitos. “Aqui mesmo na capital tem vários… Vila Embratel, Maiobão, e por aí vai…” Para ele, a morte do comerciante Francisco Edinei, em Barra do Corda, pode despertar o interesse das autoridades do Ministério Público, Poder Judiciário, Defensoria Pública, Assembléia Legislativa e até mesmo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA), para encontrarem uma solução. “Agora esse caso de Barra do Corda tem tudo para virar uma nova velha polêmica”.
O presidente da Adepol diz que torce para as autoridades não queiram se isentarem de suas responsabilidade, e jogar toda responsabilidade nas gestões anteriores e, principalmente nos delegados e agentes de polícia. “Esperamos que a administração não transfira a culpa para o delegado e equipe plantonista , que ao chegarem lá já acharam a “jaula”, não têm culpa de sua existência, que, diga-se de passagem, é uma obra pública, pois não foi construída de forma clandestina”.