Quanto mais se aproxima a eleição presidencial, mais nervosos ficam os agentes econômicos

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O cenário político mostra que cobertor continua curto

 JOÃO CONRADO DE CARVALHO conrado1959@gmail.com

Ninguém duvida que o mercado já não aposta suas fichas no equilíbrio fiscal brasileiro. Prova disso é a expectativa de juros futuros, acima dos dois dígitos, e a persistente queda no índice Ibovespa, já realizando perdas para os investidores depois de um período de alta. Quanto mais se aproxima a eleição presidencial, mais nervosos ficam os agentes econômicos, acarretando as incertezas que embaçam as esperanças de dias melhores.

Como resultado desse panorama, o mercado já flerta com a pressão inflacionária, provocada principalmente pelo reajuste no preço dos combustíveis e outros derivados de petróleo. A incapacidade de acomodar as despesas públicas dentro do orçamento obriga o governo e emitir títulos e aumentar o endividamento, colocando lenha na fogueira dos juros altos. Alguns cortes precisam ser feitos e a bola da vez parece ser os precatórios, que não estão sendo liquidados e, por esse motivo, aumentando a percepção de fragilidade das contas públicas e consequente elevação das incertezas.

Atacado politicamente, o governo não consegue progredir nas tão esperadas reformas. A maior parte delas está empacada em alguma comissão no Congresso Nacional, esperando o melhor momento para ser apreciada. Esse momento certamente não é agora, uma vez que toda a energia do governo está centrada em tentar arrefecer os ânimos da CPI da pandemia. Entre idas e vindas, o prestígio do presidente vai se esfarelando, em parte por conta das suas costumeiras declarações que só alimentam a elevada rejeição contra um segundo mandato.

O momento seria propício a uma recuperação, não fossem todos esses problemas. Quase todos os setores econômicos começam a se reanimar e registrar algum crescimento interno e perspectivas positivas em relação ao comércio internacional. Essa janela que se abre para as empresas brasileiras não pode ser desperdiçada por conta de imbróglios políticos que obstruem as possibilidades de corrigir a disfunção fiscal. A hora não é de derrubar o presidente, mas de fazer um esforço em busca de futuro melhor. Presidente se derruba no voto e as próximas eleições estão chegando exatamente para esse fim.

No entanto, a solução do cobertor público representado pelo déficit fiscal, que deveria ser a prioridade absoluta de qualquer governo, sempre fica em segundo plano, ofuscada pelos interesses partidários e ideológicos. Hoje, é mais importante arranjar provas de que o presidente é negacionista, genocida e apologista da ditadura do que aprovar a reforma tributária ou mesmo a simples atualização das tabelas do imposto de renda. Haja paciência.

No vácuo político que se instalou, o Supremo Tribunal Federal (STF) assume o protagonismo das ações e ocupa espaços dos demais poderes. A CPI só existe porque o Supremo autorizou. O Lula se tornou elegível e perdoado de muito dos seus pecados por obra do STF. E, nessa toada, o Guardião da Constituição vai prendendo quem se arvora desafiar os seus ministros e vai emitindo decisões que afetam as pessoas e os mercados. Boa parte dessas decisões são tomadas pelos ministros, de forma individual. Haja insegurança.

Não é mais possível adiar as reformas. O desequilíbrio fiscal afeta todos os demais setores econômicos e dificulta a governabilidade. É urgente que se encontre a solução para que os gastos fiquem limitados nas receitas e não mais seja preciso contrair dívidas, emitir moeda ou dar pedaladas fiscais. É preciso que vossas excelências parlamentares assumam as suas prerrogativas e aprovem as mudanças necessárias para que esse país possa rumar ao destino que merece em vez de continuar a ser a potência promissora, porém adormecida em berço explêndido.

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