AQUILES EMIR
Chego à Feira da Cohab-Anil, em São Luís, sem saber ao certo o que comprar, definição que viria somente após andar entre as bancas e ver o que mais poderia interessar. Na parte externa, deparei-me com uma pequena banca de frutas e no meios delas, sapotis. Pronto, isto me interessava!
- Quanto custa?
- R$ 5,00, respondeu a senhora dona da banca
Sem saber se era caro ou barato, comprei, e quando entreguei a cédula à feirante, ela fez um pequeno ritual: estendeu a cédula para o Céu, como se estivesse mostrando a alguém, e agradeceu a primeira venda do dia. “Muito obrigado, Senhor!”, disse ela.
Diante daquela cena, passei a meditar: aquela senhora, assim como um grande supermercadista ou dono de uma frutaria, desempenha a mesma atividade, mas ela é tão minúscula que sequer emite nota fiscal, portanto nem chamada de empresária é, mas quantos dos verdadeiramente empreendedores são tão pacientes até fecharem a primeira venda? Quantos agradecem ao Céu a visita do primeiro cliente?
Fiquei imaginando também quanto seria a renda ao final do dia daquela senhora, quanto lucraria, para que daria esse dinheiro diante de sua necessidades básicas? E se alguém envolvido no mundo do crime se sentisse dono desse dinheiro e fosse lhe assaltar ao final do dia ou mesmo quando estivesse no retorno para casa?
Esta feirante, como milhares de outras pessoas, todos os dias têm a espinhosa missão de trabalhar, sem carteira assinada, sem aposentadoria garantida, sem direito a féria (com 1/3 extra da renda mensal para isto), sem 13º salário, enfim sem tantos direitos que outros privilegiados, boa parte deles que deveria estar trabalhando em favor dessas pessoas, têm, não abrem mão e sempre pedem mais.
Chegando em casa, após esta ida à feira, verifiquei que os sapotis ainda estavam meio esverdeados; os acomodei em uma pequena vasilha e no domingo, alguns já estavam moles, prontos para serem consumidos. Abri um, e que delícia de sabor.
Enquanto degustava a fruta, lembrei da cena do dinheiro exposto ao Céu pela vendedora, e concluí que não haveria no mundo sapotis mais saborosos do que aqueles. Fiquei feliz!