Será a vez da reforma tributária?

1202

Há um ano, a crise da Covid 19 era apenas uma expectativa negativa. As apostas giravam em torno de crescimento econômico por volta de 2%, boa parte acreditando que as tão esperadas reformas viriam. Como todo mundo já sabe, a economia do mundo inteiro andou para trás em 2020 e as reformas sequer foram cogitadas. Tal como um filme que se repete, estamos novamente diante das mesmas expectativas de crescimento econômico e que as reformas avancem. Nada de novo, portanto.

Há, entretanto, um certo movimento em prol da Reforma Tributária, até porque o relator é o senador maranhense Roberto Rocha, que prometeu apresentar o texto a uma das casas legislativas até o fim de fevereiro. Especialistas de todos os matizes ideológicos procuram antecipar o que vai prevalecer, posicionando-se por esta ou aquela vertente. Uma coisa, porém, é voz uníssona entre eles: a carga tributária não vai diminuir. Quando muito, espera-se maior racionalidade no campo tributário.

Falar de tributos no Brasil não é fácil. Apurar, recolher e prestar contas, então, é coisa para super-homens. Os tributos incidem de diferentes maneiras, hora sobre a renda do trabalhador e das empresas, hora sobre os produtos e serviços e hora sobre as operações financeiras. Incidem, anda, sobre bens móveis e imóveis e sobre uma infinidade de outras coisas, inclusive sobre os próprios tributos. A base de cálculo, ou seja, o valor sobre o qual se aplica a alíquota para determinar a obrigação tributária, pode ser a mesma para diferentes tributos e ainda há o chamado efeito cascata, quando um imposto incide nas diferentes etapas da cadeia produtiva.

Não há ser humano capaz de conhecer e dominar todo cabedal das normas, leis, portarias, instruções e um sem número de regras que determinam, no limiar da compreensão, o sistema tributário brasileiro. Por essa razão, as empresas de grande porte empregam verdadeiros exércitos de contadores e especialistas só para cuidar da arrecadação tributária, dos encargos sociais sobre a folha de pagamento e da infindável lista de obrigações acessórias que precisam ser cumpridas sob a forma de prestação de contas, declarações e outras informações para as autoridades fiscais.

A carga tributária no Brasil já passa de 37% do PIB, ou seja, as diferentes esferas tributárias (União, estados e municípios) arrecadaram nada menos que R$ 1,6 trilhão em 2020. Apesar do gigantismo desse número, a receita fiscal está longe de cobrir as despesas. O déficit fiscal de 2019 bateu na casa dos R$ 400 bilhões, explicado pelos gastos da previdência e compromissos com o endividamento. Considerando as despesas obrigatórias, o governo quase nada tem para investir nos projetos ou bancar os custos de uma pandemia. O que resta é captar dinheiro elevando a dívida pública.

Considerando, portanto, que não há chance de reduzir a carga tributária, resta debulhar terços rezando para que não aumentem os impostos no Brasil e, de quebra, que simplifique a arrecadação e administração. Para isso, giram propostas em torno da junção de tributos que têm a mesma base de cálculo e que sejam reduzidas as obrigações acessórias. O assunto é indigesto porque implica, de uma forma ou de outra, na queda de receita das esferas tributárias e ninguém quer perder arrecadação. Achar esse ponto de equilíbrio não é tarefa fácil e o abacaxi está nas mãos do senador Roberto Rocha.

A população brasileira espera que surja uma proposta que efetivamente possa contribuir para reduzir um dos grandes gargalos para o crescimento econômico. O sistema tributário, tal como está, não pode continuar. O próprio ministro Paulo Guedes trata o problema com a alcunha de “manicômio tributário”, ou seja, coisa de louco. A bola está, portanto, nas mãos de um representante maranhense, de quem se espera que esteja iluminado para produzir um texto que permita esse país avançar um pouco mais.

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Digite seu nome aqui