É coerente o discurso do desenvolvimento sustentável?

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Que as ações sejam por convicção e não por modismo

    •  João Conrado
    • conrado1959@gmail.com

O assunto recorrente no mundo todo são os objetivos do desenvolvimento sustentável, os ODS, lançados na Agenda 2030 da ONU em 2015 por mais de 150 líderes mundiais. São 17 desafios que pretendem fomentar a prosperidade por meio da erradicação da fome e da pobreza, redução da desigualdade entre gêneros, empoderamento da mulher, garantia de educação de qualidade, oferta de trabalho decente, produção e consumo sustentável, ações pelo clima, entre outros.

Dez entre dez empresas gastam páginas nos seus relatórios financeiros e propagandas de marketing para ressaltar a adesão a esses objetivos, cientes de que irão atrair consumidores que escolhem empresas por esses princípios.

Os relatórios da administração que normalmente acompanham as demonstrações contábeis colocam em primeiro plano as preocupações ambientais e sociais das grandes companhias, destacando suas ações em busca de fontes renováveis de energia, redução do consumo e valorização do ser humano e das comunidades vizinhas. Essas informações vêm antes dos resultados, dos indicadores de performance e da opinião dos auditores. É uma mudança mais que radical e bem-vinda, se realmente representa a convicção da empresa e não apenas mais um modismo para encantar adeptos do politicamente correto.

A moda se alastra para o setor público, que também adere à propaganda para mostrar ações em defesa do clima e construção de cidades inteligentes, água limpa e saneamento, saúde e bem-estar social. Nenhum dos ODS fica de fora e, a julgar pela propaganda, é possível prever que antes mesmo de 2030 já teremos alcançado o paraíso. A questão é saber se tudo o que se publica é verdade ou mera panfletagem oportunística.

A dúvida é pertinente. Se recorrermos às pesquisas científicas, há autores que consideram os ODS como utopia, algo impossível de ser alcançado. Outros acham que alguns problemas tendem a se agravar, independente de todas as intenções, como é o caso da mudança climática. As notícias na imprensa também não são lá muito alvissareiras. Há relatos de que a pobreza e a fome se alastram em decorrência de guerras, conflitos políticos e crises econômicas. Como consequência, hordas de migrantes vagueiam pelo mundo em busca de um lugar seguro e acabam por criar bolsões de miséria nos locais onde aportam. Os jornais dizem que os desmatamentos e queimadas, sejam naturais ou provocadas pela exploração humana, seguem seu ritmo e acabam contribuindo para a desorganização climática.

Se queremos um mundo justo e que possa ser legado às futuras gerações em condições semelhantes àquelas que recebemos dos nossos antepassados é preciso muito mais que relatórios espetaculares e propaganda. Em tempos de redução de desigualdades, é lamentável ter que assistir cenas grotescas de racismo em partidas de futebol. É inadmissível buscar o trabalho decente e ter que admitir que na maior parte do Brasil (quem sabe do mundo) ainda se explora a mão de obra e não se garante condições dignas e salubres ao trabalhador.

No momento em que o Brasil se apresenta como celeiro do mundo, capaz de suprir a demanda mundial por alimentos, o agronegócio brasileiro, que responde por 27% do PIB nacional e pelo superavit da nossa balança comercial, transita entre centros avançados e inovadores de produção e verdadeiros esquemas de produção estacionados nos tempos da colonização. Passa da hora de sair das cores bonitas dos folhetos de marketing para ação concreta e eficaz.

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