Eliziane sai em defesa do Evo Morales e condena intervenção militar na Bolívia

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A queda de Evo Morales após 13 anos como presidente da Bolívia, repercutiu entre os senadores brasileiros com interpretações antagônicas para os fatos registrados nos últimos dias. Para os senadores mais alinhados a partidos de esquerda, Evo é vítima de um golpe de Estado, dentre eles Eliziane Gama (Cidadania-MA), mas os de outros espectros políticos entendem que o ex-presidente boliviano perdeu a legitimidade, após tentar a quarta reeleição num processo contestado por amplos setores sociais daquele país, sob acusações de fraude, com questionamentos inclusive de órgãos multilaterais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Tese golpista – O senador Jean Paul Prates (PT-RN) não hesita em qualificar a renúncia de Evo, anunciada neste domingo (10), de “um golpe militar direitista, com traços fundamentalistas”. Para ele, a ação é motivada pela disputa sobre o controle das riquezas naturais do país, como petróleo, gás e lítio. O senador cita uma reportagem da BBC Brasil mostrando que a economia boliviana cresce a uma média de 5% ao ano desde 2006, e deve ser a nação sul-americana que mais vai crescer em 2019 (cerca de 4%). Prates ainda vale-se de bons indicadores sociais atingidos nos mandatos do ex-presidente para apontar que “é por causa destes números que não ganham dele no voto”.

“A pobreza extrema caiu de 38,2% para 15,2% entre 2006 e 2018. Também tiveram quedas expressivas os índices de pobreza moderada (de 60,6% para 34,6%), de analfabetismo (de 13% para 2,4%) e de desemprego (de 9,2% para 4,1%) neste mesmo período”, escreveu o senador no Twitter.

Prates ainda condenou atos de violência contra familiares do ex-presidente, contra ex-ministros e rumores de que Evo seria preso. Por fim, o senador aponta que a superação da crise política deve se dar pela convocação de novas eleições, “e não com um golpe militar”.

A Bolívia vive uma conflagração social desde o pleito de 20 de outubro, que deu vitória a Evo para exercer um novo mandato de 6 anos. Para a oposição, o processo foi fraudado. Uma auditoria da OEA defendeu uma investigação isenta sobre o processo por parte de órgãos do Estado boliviano, diante de “registros com alterações e assinaturas falsificadas”. A OEA ainda apontou “manipulações ao sistema de computação de votos”.

Condenação à violência – Para o líder do PT, senador Humberto Costa (PE), a direita “não sabe conviver com a democracia”. O senador defende a tese de que Evo preferiu renunciar “para evitar um derramamento de sangue ainda maior”, e que o ex-presidente agiu como um pacifista durante a crise, ao propor a realização de novas eleições. Mas nem isso impediu o que define como “um golpe militar”. Ele ainda condena a invasão de uma casa do ex-presidente por parte de um grupo paramilitar, ações de violência contra partidários de Evo, e reencaminhou uma mensagem do próprio Evo, afirmando que “estão destruindo o Estado de direito” no país.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também definiu a queda de Evo como um golpe de Estado, e condenou duramente a violência. No twitter, publicou fotos de ex-prefeitos e ex-dirigentes do antigo governo amarrados a árvores, enquanto sofriam ameaças em plena rua.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) afirmou que a convulsão na Bolívia tem “elementos de ódio”. Ele lamentou que indígenas, lideranças de movimentos sociais e jornalistas venham sendo perseguidos desde a renúncia de Evo.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) ainda opina que os problemas da democracia “não se resolvem com a intervenção das Forças Armadas”. Ela pede que a comunidade internacional esteja atenta quanto às violações de direitos humanos, e que um novo processo eleitoral seja realizado.

 Manifestação pela democracia em El Alto

Fraude e novas eleições – O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), aponta que Evo caiu após a constatação de que sua última vitória teria sido obtida através de fraude. “Serve de lição, para que testemunhemos que toda ação que arranha a vontade democrática de uma sociedade leva a desdobramentos inimagináveis. Foi o que ocorreu na Bolívia. A OEA constatou fraudes evidentes no processo eleitoral, que são o pilar, o esteio de qualquer democracia. Quando o esteio é abalado, tudo cai por terra. Rogo para que o povo da Bolívia, de forma livre, soberana e democrática, determine um novo destino ao país”, disse.

A vice-líder do PSL, senadora Soraya Thronicke (MS), reproduziu uma mensagem do chanceler Ernesto Araujo, para quem “a tentativa de fraude deslegitimou Evo Morales”. O comentário ainda defende que “não há nenhum golpe na Bolívia, e que esta narrativa só serve para gerar mais violência”. Aponta que o Brasil apoiará a transição “democrática e constitucional”, e que a renúncia “foi um gesto acertado, diante do clamor popular”. Num comentário próprio, Soraya roga para que “logo a Venezuela tenha a mesma sorte que a Bolívia”.

Para a senadora Juíza Selma (Podemos-MT), “graças a Deus a Bolívia acordou”. Ela refuta a tese de que o país sofre um golpe de Estado, e que quem tentou dar um golpe foi Evo Morales, “que fracassou”.

O senador Alvaro Dias (Podemos-PR) é outro que diz que o ex-presidente revoltou a população ao fraudar o pleito, e que após perder o apoio dos militares e policiais, não restou outra saída além de renunciar.

Além de Evo, o vice-presidente Alvaro Linera e as cúpulas da Câmara e do Senado também renunciaram. A senadora Jeanine Añez (opositora de Evo) anunciou que assumiria a presidência interinamente, na condição de vice-presidente do Senado. Em entrevista à mídia boliviana, garantiu que assumirá “com a única intenção de convocar novas eleições num prazo de 90 dias”, como determina a Constituição daquele país em casos de vácuo no poder.

(Agência Senado)

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